Para Joel Dutra, professor da FIA, de São Paulo, as empresas estão promovendo executivos precocemente, para não perdê-los para o mercado.
Revista Você S/A - por Elisa Tozzi
Os profissionais estão entrando cada vez mais bem preparados no mercado e as empresas passam a acelerar as promoções, para não perder jovens talentos. De acordo com Joel Dutra, diretor-geral do departamento de recursos humanos da Universidade de São Paulo e coordenador do programa de gestão de pessoas da Fundação Instituto de Administração (FIA), essa ê uma tendência mundial. Na entrevista a seguir ele explica por quê.
Você S/A - Muitas empresas parecem estar acelerando a carreira de seus profissionais estratégicos. Por que isso ocorre?
Joel Dutra - Porque os profissionais estão entrando mais bem preparados nas organizações e não param de investir em desenvolvimento. É comum encontrar funcionários que dividem o trabalho e o tempo livre com educação executiva e flcam cada vez. mals competentes. Para não perder esses talentos, que têm entre 35 e 45 anos, as empresas de setores mais dinâmicos precisam promovê-los. Se não fazem isso, eles sentem-se frustrados por depender da aposentadoria de altos executivos para crescer e vão embora. Essa ê uma tendênela mundial.
Você S/A - Em que áreas essa tendên cia é mais comum?
Joel Dutra - Isso ooorre em setores mais dinâmioos, em que as mudanças precisam acontecer para o negócio seguir em frente. Alguns exemplos são: operadoras de telecomunioação fixa e móvel, tecnologia, mercado financeiro e varejo. Em mercados conservadores, como indústria de bens duráveis e agronegócio, isso não ocorre com frequência.
Você S/A - Quais são as principais competências dos jovens presidentes?
Joel Dutra - Para ocupar a cadeira da presidência, os profissionais precisam ter as habilidades clássicas de liderança, como empreendedorismo, visão estratégica,boa comunicação e pensamento crítico. Mas uma aptidão importante é a capacidade de reinventar a empresa e reinventar a si mesmo. As organizações esperam que presidentes jovens tragam soluções inovadoras e ideias criativas.
Você S/A - que esses executivos podem almejar depois de terem chegado ao topo com pouca idade?
Joel Dutra - Esse é um drama com o qual eles têm de aprender a lidar. Mas há, pelo menos, três possibilidades. Se o executivo preside a subsidiária de uma multinacional, o movimento comum é ele ser expatriado e assumir cargos na matriz. Outra probabilidade é que esse profissional integre o conselho empresarial - no setor financeiro já é comum encontrar conselheiros com menos de 50 anos. Há ainda a alternativa de mudar de empresa ou de setor e ir para um lugar que o desafie.
Você S/A - Os jovens executivos se sentem inseguros na hora da promogão a presidente?
Joel Dutra - Não. Ninguém cai de paraquedas numa presidência. Esse profissional precisa ter ocupado vários níveis da organização para chegar ao cargo máximo. É um processo natural. Claro que ele pode sentir a pressão no início, mas sabe que tem competência para o cargo.
• Faça seu caminho
Marcelo Rabach - Presidente do Mac Donalds Brasil
Idade: 40 anos
Mérito dele: Relacionamento prévio com os sócios da empresa
Formação: Administração pela Universidade Argentina de Empresas e possui MBA Executivo na IAE Business School, da Universidad Austral
Planejar uma carreira é pensar num crescimento duradouro. Em certas situações, isso implica abdicar de uma situação mais confortável no presente para garantir sucesso no futuro. É o que mostra a trajetória de carreira do argentino Marcelo Rabach, de 40 anos, que assumiu a presidência do McDonald"s do Brasil em 2008, aos 37 anos. Em 2005, Marcelo vivia um dilema de carreira. Ocupava um cargo bom (era diretor de operações da rede de fast-food na Argentina), principalmente para quem começou a carreira como atendente de loja. Mas sentia que, para crescer mais, precisaria deixar a terra natal. Resolveu se candidatar ao cargo de diretor de operações na Colômbia e na Venezuela. "Precisava mostrar que era capaz de me adaptar a outra cultura", lembra. Conquistou a vaga, assumiu o cargo e, três anos depois, graças aos bons resultados e aos contatos que tinha feito na Argentina, chegou à presidência da unidade brasileira.
- Sacrifício
Ao optar pela expatriação, Marcelo adiou o sonho de ter filhos. "Tinha acabado de casar e estava fazendo planos de paternidade", diz. Só retomou o projeto dos filhos quando assumiu a operação brasileira. Hoje, é pai de duas crianças.
- Conselho
Invista em relacionamento, mesmo se estiver distante. Ao mudar-se para o exterior, Marcelo distanciou-se de seu círculo de amizades profissionais, mas manteve contato mesmo longe. O executivo roeu as unhas quando o McDonald"s negociou a terceirização de sua operação na América Latina. Dois grupos disputavam o controle do negócio. Um deles, que acabou ganhando a concorrência, era comandado por pessoas que Marcelo conhecia da Argentina. O outro, não. "Se o grupo ri ival tivesse arrematado o negócio, talvez eu tivesse me dado mal", diz. "Quando você investe em relacionamento, constrói oportunidades para sua carreira dentro ou fora da companhia."
• Saiba fazer escolhas
Anna Chaia - Presidente da L"Occitane no Brasil
Idade: 42
Mérito dela: Planejar carreira no longo prazo
O que ajudou: Clareza de objetivos
Formação: Marketing pela ESPM, Pós-graduação em Administração pela FGV-SP e MBA Executivo pela Harvard Business School
Ter clareza sobre os objetivos de vida e de carreira ajuda muito na hora de fazer escolhas profissionais. A paulista Anna Chaia, de 42 anos, presidente da subsidiária brasileira da L"Occitane, fabricante francesa de cosméticos, define seus passos de carreira, avaliando o que o trabalho pode oferecer em termos de trajetória profissional e de aprendizado. Isso se tornou mais importante há dez anos, quando foi promovida a gerente de uma unidade de negócios da Natura, onde trabalhava. Após ter feito carreira na área de marketing, aquele cargo foi o primeiro que exigiu dela ter uma visão mais ampla do negócio. "Foi quando apareceu o desejo de ser presidente", diz Anna, que chegou ao cargo aos 38 anos, quando assumiu a operação brasileira da joalheria Swarovski. Ela sempre mede o que a oportunidade pode trazer de retorno de carreira em três anos. "Já recusei propostas financeiramente melhores, mas que não batiam com meus objetivos", explica Anna.
- Sacrifício
As viagens fazem parte da rotina de Anna. São ao menos duas por mês e, fora isso, a cada três meses ela faz uma viagem internacional. "Gosto de estar por perto do meu filho, não delego a educação dele, mas muitas vezes não dá", diz. O jeito é negociar com o marido - também executivo -, contar com a colaboração da família e, claro, não desligar nunca o celular.
- Conselho
Resistir à tentação e dizer "não" às oportunidades que não estão alinhadas aos seus planos pessoais. Outra dica é ajudar os pares a se destacar. "A partir de cargo de diretoria não dá mais para competir com os pares, porque você precisa deles para crescer." Por fim, para ter uma trajetória de sucesso é fundamental ter satisfação no que se faz. "Não há divisão entre vida pessoal e profissional", ressalta.
• Não tema a mudança
Decius Valmorbida - Gerente-geral da Amadeus Brasil e Vice-presidente para a América Latina
Idade: 36 anos
Mérito dele: Ter escolhido um lugar em que sua contribuição foi valiosa
O que ajudou: Empresa em reestruturação abriu oportunidades
Formação: Tecnologia da informação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Pós-graduação em Administração pelo Insper
M uita,s vezes, para crescer é necessário promover mudanças radicais na carreira. Considere uma solução drástica quando seu potencial não é reconhecido ou não há espaço para crescer. Foi o que fez o baiano Decius Valmorbida, de 36 anos, gerente-geral da Amadeus, que desenvolve software de gestão para o mercado de viagens. Há seis anos, ele decidiu sair do setor de telecomunicações e deixar o posto de executivo-chefe de tecnologia para a América Latina da multinacional americana AT&T. "Minha função não era vista como estratégica", diz. Para se reciclar, Decius voltou à sala de aula para fazer um MBA. Também recorreu a headhunters, para encontrar uma nova posição no mercado. Meses depois, veio o convite para ser diretor de operações da Amadeus. No novo emprego, Decius reduziu pela metade os custos de sua área, usando a internet para se relacionar com agências de viagens e companhias aéreas. "Tive sorte de chegar num momento em que havia coisas a serem feitas", diz.
- Sacrifício
Após dois anos no cargo, Decius recebeu o convite para ser diretor de marketing e desenvolvimento de negócios na América Latina, o que exigiu mudar-se com a família para Miami (EUA). "Família, amigos e saúde acabam ficando em segundo plano no auge da carreira", diz. "Cada um paga um pedacinho da conta", desabafa.
- Conselho
Faça todos os esforços possíveis para realizar seus projetos pessoais, mesmo que para isso seja preciso mudar os rumos da vida. Não coloque a promoção como objetivo. "O importante é focar no aprendizado e nos resultados que vai alcançar", diz. "Os degraus a mais vêm naturalmente se você for comprometido."
• Faça algo de que goste
André Freire - Presidente da Terex para a América Latina
Idade: 37 anos
Mérito dele: Ter procurado um trabalho que traz realização pessoal
O que o audou: Oportunidade de construir um negócio do zero
Formação: Engenharia Civil pela Universidade Mauá, com Pós-graduação pela FGV-SP, pela Kellogg e pelo Insead
Econtrar um trabalho que proporcione realização é um componente fundamental para crescer. Afinal, o sucesso requer dedicação intensa e é impossível ter essa energia fazendo algo que não dá prazer. Há 13 anos, André Freire, de 37 anos, hoje presidente da Terex, fabricante de guindastes, empilhadeiras e escavadeiras, ainda procurava uma atividade interessante. Já havia desistido da carreira numa construtora e sentia que faria o mesmo com o emprego que tinha no banco ABNAmro. Um conhecido que morava nos Estados Unidos e trabalhava na Genie, empresa que formaria a Terex, lhe ofereceu a oportunidade de abrir um escritório da companhia no Brasil e ser seu representante comercial. "Tinha 24 anos e pensei que, se não arriscasse naquele momento, não arriscaria nunca mais", diz. André fez as malas e foi para Seattle (EUA) conhecer a empresa. Quando voltou, pediu demissão do banco e partiu para um negóc o requer dedicação intensa e é impossível ter essa energia fazendo algo que não dá prazer. Há 13 anos, André Freire, de 37 anos, hoje presidente da Terex, fabricante de guindastes, empilhadeiras e escavadeiras, ainda procurava uma atividade interessante. Já havia desistido da carreira numa construtora e sentia que faria o mesmo com o emprego que tinha no banco ABNAmro. Um conhecido que morava nos Estados Unidos e trabalhava na Genie, empresa que formaria a Terex, lhe ofereceu a oportunidade de abrir um escritório da companhia no Brasil e ser seu representante comercial. "Tinha 24 anos e pensei que, se não arriscasse naquele momento, não arriscaria nunca mais", diz. André fez as malas e foi para Seattle (EUA) conhecer a empresa. Quando voltou, pediu demissão do banco e partiu para um negócio que não existia. "Recebi um laptop, uma tabela de vendas da companhia e o desejo de boa sorte", conta. Três meses depois, conquistaria um contrato de 1 milhão de dólares e a abertura oficial do escritório da Terex no Brasil. O cargo de diretor-geral veio em 2005, quando ele tinha 32 anos, e o de presidente para a América Latina em 2008, aos 35. Hoje, a unidade fatura 350 milhões de dólares por ano e tem entre os clientes constru toras como Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Odebrecht.
- Sacrifício
Carreira em multinacional ocupa muito da agenda profissional, por causa das inúmeras viagens ao exterior. O tempo dedicado ao trabalho impediu André de curtir, como ele esperava, os primeiros anos de casamento. "Em alguns momentos faltou tempo sim, mas consegui balancear", afirma o executivo.
- Conselho
Para André, muitos profissionais desperdiçam oportunidades de carreira pelo orgulho de não dar um passo atrás. "Saí do banco para ser vendedor", lembra. Hoje, quando recruta executivos, sente falta dessa flexibilidade. "Eles recusam um cargo menos charmoso por não enxergar o que podem alcançar no futuro", diz. Outro conselho: não faça MBA cedo demais. "Fiz e me arrependi. Não tinha experiência."
• Fique atento
Paola Kiwi - Diretora-geral da Tupperware no Brasil
Idade: 39 anos
Mérito dela: Dedicação fora do comum ao trabalho
O que a ajudou: Empresa em fase de mudança
Formação: Contabilidade pela Universidade de Santiago do Chile e MBA em Finanças Corporativas pela FGV-SP
Alcançar o comando de uma empresa exige perseverança e atenção para aproveitar os espaços que aparecem. Essas duas habilidades combinadas são uma forma clássica de compensar a falta de experiência (numa eventual comparação com um executivo de currículo mais extenso). A chilena Paola Kiwi, de 39 anos, diretora-geral no Brasil da Tupperware, fabricante de embalagens plásticas, não traçou plano algum para atingir o topo. No entanto, não perdeu nenhuma oportunidade desde que entrou na empresa em 1999, como analista financeira. Paola sempre esteve atenta às movimentações da companhia. Toda vez que tinha uma chance, estreitava contato com os superiores e expunha suas ideias. Esse hábito fez com que recebesse um convite para ser gerente de contabilidade da Tupperware no Brasil e atuar em sua fábrica, em Resende, interior fluminense. Ela chegou num momento em que a companhia enfrentava grande reestruturação, sem conhecer ninguém e sem falar português. Trabalhou duro. Até dormiu na fábrica. O esforço chamou a atenção dos chefes e lhe valeu outra promoção, dessa vez para diretora financeira. Naquele momento, fez MBA em finanças e alguns cursos de extensão. Mais dois anos e fez um movimento lateral bastante desafiador: dirigir a área comercial. Pouco mais de um ano depois, com experiência nas duas áreas mais importantes do negócio, recebeu o convite para substituir o presidente, que estava de saída.
- Sacrifício
Quando era gerente da fábrica de Resende, Paola varou várias noites, inclusive sábados e domingos. Muitas vezes só tinha tempo de ir para casa tomar banho e voltar. "Eu e minha equipe chegamos a ficar 30 horas trabalhando direto, sem dormir", relembra.
- Conselho
Paola admite ter exagerado nas jornadas esticadas. "Não trabalhe a ponto de prejudicar sua saúde. Há um momento em que você precisa fazer sacrifícios, mas não faça para o resto da vida", afirma.
• Invista na formação
Ricardo Reis - Presidente da Havas digital para a América Latina
Idade: 35 anos
Mérito dele: Aproveitar o networking do MBA
O que o ajudou: Na época, muitas empresas espanholas estavam entrando no Brasil
Formação: Administração pelo Centro Universitário UNA (MG) e MBA no IESE, Universidade de Navarra
Um bom MBA pode ser uma arma importante para acelerar o desempenho gerencial de um jovem gestor, desde que bem usada. A condição para investir num curso assim é já ter alguma experiência como gestor. O mineiro Ricardo Reis, de 35 anos, presidente da Havas Digital, agência de publicidade online, escolheu esse caminho. Aos 24 anos, quando já era gerente de vendas na cervejaria Ambev foi um dos mais novos a ocupar o cargo -, decidiu passar dois anos no lese, da Espanha, uma das principais escolas de negócios da Europa. Seu plano era adquirir vivência internacional. A opção pela Espanha se deveu à intenção de aprender uma terceira língua, pois ele já dominava o inglês. Um ano após iniciar o curso, Ricardo foi descoberto pelo grupo de publicidade Havas, presente em mais de 100 países, que tem a política de buscar jovens profissionais em escolas de negócios. Nos meses seguintes, manteve contato com a empresa e a envolvia nos projetos que desenvolvia para o MBA. Ao final do programa, foi chamado para liderar a implantação da agência no Brasil. "Estava no lugar certo na hora certa", afirma.
- Sacrifício
Ricardo admite que correu risco ao optar por fazer um MBA full time e se afastar do mercado por dois anos precocemente na carreira. Os contatos que ele tinha se perderam. Caso nã