Estudos revelam que profissionais bonitos têm mais chances de sucesso profissional. O segredo dos belos: boa aparência mantém a autoestima em alta.
Revista Você S/A - por Elisa Tozzi
A aparência importa quando o assunto é carreira? A resposta é "sim" - para o bem e para o mal. O lançamento do livro O Valor da Beleza - Por Que as Pessoas Atraentes Têm Mais Sucesso (Ed. Campus/Elsevier), de Daniel S. Hamermesh, economista americano que traz à tona essa discussão que ainda é um grande tabu dentro das organizações. "Os executivos não gostam de admitir que a beleza afeta o modo como eles lidam com outros profissionais", diz Daniel, em entrevista à VOCÊ S/A. Professor da Universidade de Houston, nos Estados Unidos, Daniel se dedica aos estudos de pulchronomics (economia da beleza) e, em seu livro, divulga resultados de pesquisas que mostram que a aparência pode influenciar - e muito - os salários. De acordo com seus levantamentos, mulheres belas têm rendimentos 4% maiores que a média. Já os homens mais bonitos do que o comum têm contracheques 3% maiores. O mais surpreendente, de acordo com o autor, é que os que são considerados feios tendem a receber até 22% a menos (no caso dos homens) e 3% a menos (no caso das mulheres). A aparência, para os homens, seria mais importante do que a educação. "A cada ano de escolaridade, há um aumento de 10% nos ganhos financeiros", escreve Daniel no livro. Uma boa estampa equivaleria praticamente a um MBA.
A pesquisa de Daniel foi feita nos Estados Unidos e talvez a realidade brasileira seja diferente. Mesmo assim, fica a dúvida: que razões fazem com que os belos sejam privilegiados e conquistem salários mais polpudos? Daniel arrisca a resposta: autoestima nas alturas. Afinal, quando você está satisfeito com a própria aparência (e tem competência para exercer seu cargo) fica mais fácil enfrentar os desafios de carreira. "Quem se sente bem com seu modo de ser é mais seguro", diz a headhunter Adriana Prates, diretora da Dasein Executive Search, de Belo Horizonte. "E confiança ajuda a transmitir ideias e habilidades, o que acaba conquistando os chefes." Por estar o tempo todo em contato com clientes, Rodrigo Cheiricatti de Carvalho, de 35 anos, gerente da operadora Vivo em Belo Horizonte, cuida para estar sempre com a apresentação impecável. "Essa atitude ajuda a abrir portas. Depois da primeira impressão, fica mais fácil mostrar minhas competências técnicas", afirma Rodrigo.
A boa aparência tem outra vantagem: aumentam as chances de outros prestarem mais atenção no que você tem a dizer. De acordo com uma pesquisa da Universidade Rice, dos Estados Unidos, feita com profissionais em busca de um emprego, sinais faciais marcantes, como cicatrizes, distraem os recrutadores e fazem com que eles não foquem no conteúdo do candidato, só em seu aspecto exterior. "Qualquer elemento muito chamativo pesa em uma entrevista", diz Marcela Esteves, consultora da Robert Half, empresa de recrutamento de São Paulo, que admite se policiar para não cometer injustiça com candidatos menos privilegiados esteticamente. "Quando há dois candidatos com habilidades idênticas disputando uma vaga, corre-se o risco de usar a aparência como critério de desempate."
Os bonitos também podem ser privilegiados por recrutadores e chefes porque, mesmo inconscientemente, são vistos como menos ameaçadores. "Nosso cérebro tende a ficar mais confortável em frente ao que reconhecemos como harmônico, por isso temos mais propensão a nos abrir para ouvir pedidos, críticas e sugestões de uma pessoa agradável",
diz Lucas Copeli, diretor da Vallua, consultoria de gestão, de São Paulo.
E o que deve fazer quem convive com a desvantagem da falta de beleza? Relaxe, você não precisa ter o rosto do George Clooney, o corpo da Gisele Bündchen ou passar horas na academia, no salão de beleza e na clínica de estética para ter sucesso. Para os consultores e headhunters, o que conta mais é o bom e velho charme. "Steve Jobs não era nenhum modelo de beleza, mas sabia envolver com seu discurso. Encontrar a melhor maneira de se portar para encantar os outros é o que realmente vale", afirma Adriana, da Dasein.
A grande lição não é se preocupar em ter os olhos mais lindos do mundo, mas conseguir transmitir empatia, segurança ou qualquer outro sinal positivo. Isso todos podem fazer, cuidando dos detalhes: no sorriso aberto que você dá quando se apresenta; na maneira como você se levanta para cumprimentar com firmeza; na roupa que você escolhe para participar de uma reunião formal ou para comparecer a um almoço informal. Todas essas atitudes contam pontos a seu favor. "Se o profissional se preocupa em ser agradável, veste-se de maneira adequada para o trabalho, sabe ouvir e mostra que é competente no que faz, a aparência física em si fica em segundo plano", diz Rodrigo Vianna, diretor da Hays, empresa de recrutamento de São Paulo.
Por isso, é bom tomar muito cuidado com sua atitude. Uma palavra rude, por exemplo, faz mais estragos do que um mau penteado. "Toda a empatia acaba quando alguém transmite arrogância e se mostra desinteressado na fala do interlocutor. Não importa quão bonita a pessoa seja, isso destrói uma primeira impressão", explica Marcela, da Robert Half. O gerente para a América Latina do órgão turístico Visit Britain, de São Paulo, Samuel Lloyd, de 30 anos, leva essa lição a sério. Ele, que já passou por empresas formais e informais, sabe que o que ajuda a crescer, além da aparência alinhada c com sua atividade, é se conectar verdadeiramente com os chefes, clientes e colegas. "O que me ajudou a estabelecer boas relações é aprender a me colocar no lugar do outro e tentar entender quais são os desejos e os sentimentos de quem trabalha comigo", diz Samuel. E a tática parece ter dado certo. "Todas as pessoas em que me espelho profissionalmente tinham um comportamento semelhante ao que estou adotando, e isso certamente me ajudou a conquistar o cargo em que estou hoje."
Obviamente, a aparência, sozinha, não sustenta a carreira de ninguém. "Beleza é apenas mais um dos vários fatores que influenciam o sucesso. Todas as pesquisas mostram que beleza importa, mas somente se estiver ligada a outros aspectos", diz Daniel Hamermesh. "Em um país cada vez mais competitivo como o Brasil, é fundamental, em primeiro lugar, ter as habilidades técnicas para exercer bem a sua profissão", diz Rodrigo, da Hays. Sem educação em dia e atualização constante diante das novidades de seu setor, ninguém consegue manter-se no mercado. Se você é bonito, considere-se com sorte - apenas. E para os que se acham feios, além de procurar formas de aumentar o próprio carisma, é bom seguir o conselho de Daniel: "Enfatize as coisas em que você é excelente, como sua inteligência e aspectos marcantes de sua personalidade. Assim, a aparência física ficará em segundo plano".
• Bonitos demais
Beleza também pode prejudicar belos acima da média podem ter mais sucesso ao longo da carreira, de acordo com a teoria de Daniel, mas ainda enfrentam alguns preconceitos. O mais comum é um velho, porém real, clichê: ter de lutar para demonstrar que existe conteúdo por trás de um rosto bonito. A publicitária Marina Tornagnini, de 24 anos, gerente de marketing promocional da agência de publicidade Future Group, de São Paulo, já enfrentou esse tipo de situação. "É muito comum ouvir colegas dizendo que achavam que eu era linda, mas superficial", diz. Para quebrar essa discriminação, Marina investe em treinamentos e cursos e tenta, sempre, ser discreta e atenciosa. "Depois de conversar com as pessoas eu mostro que tenho competências técnicas, e o impacto da minha imagem acaba ficando em segundo plano", diz Marina.
De acordo com Lucas Copeli, da Vallua, esse tipo de preconceito já está em extinção. Afinal, as organizações estão com falta de mão de obra qualificada e não podem mais se basear apenas em atributos físicos: "Há alguns líderes machistas que ainda se prendem muito à beleza, mas eles estão perdendo espaço. Não dá mais para desperdiçar profissionais qualificados".
• Plástica para trabalhar
O Brasil é o segundo país com maior número de cirurgias plásticas no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. E tem aumentado o número de executivos que procuram intervenções cirúrgicas para se sentir mais seguros. Hoje, os homens já representam 30% dos pacientes de cirurgia plástica, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). A maioria busca melhorar a autoestima para tentar resolver obstáculos no crescimento da carreira. "Executivos e profissionais que lidam com o público venceram o tabu e frequentam as clínicas com menos desconforto do que há uns anos", diz Dênis Calazans, secretário-geral da SBCP. Em geral, há mais demanda por lipoaspiração e redução de bolsas nos olhos. Uma pesquisa da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, mostra que 87% das pessoas que passam por plásticas se sentem mais felizes. "Isso reflete na autoestima e pode ajudar no sucesso. Mas é bom deixar claro que beleza não é atestado de competência profissional", afirma Dênis. Então, nada de economizar para ficar com o tanquinho do Cauã Reymond - o melhor ainda é estudar e ficar com o sucesso (e barriga proeminente) de Mark Zuckerberg.
• Dose certa na entrevista
Você precisa estar arrumado em um processo seletivo, mas a linha entre o excesso e a boa aparência é tênue. Veja o que fazer para não exagerar.
- Evite perfume em excesso. Odor forte fará o recrutador encerrar a entrevista rapidamente.
- Cuidado com os acessórios: brinco enorme, colar brilhante ou armação de óculos extravagante podem desviar a atenção.
- Para as mulheres, o melhor é um penteado que impeça o cabelo de cair no rosto. Para os homens, basta pentear bem os fios.
- A maquiagem precisa ser suave, escondendo olheiras e espinhas. Evite minissaia e decotes mesmo em empresas informais.
- Se você usa barba, não precisa raspar. Cuide apenas de deixá-la alinhada.
- Pesquise o estilo de vestuário da empresa antes de ir à entrevista.