"Neuróbica" conquista adeptos dos seis aos 80 anos exercitando os lados lúdico e lógico.
Jornal Gazeta Mercantil - por Maria Luiza Filgueiras
O lado esquerdo comanda o raciocínio lógico. O lado direito ministra movimentos como a fala e expressões motoras. Por mais que se queira definir a lógica do cérebro humano, o mistério sobre a capacidade de acumular conhecimento e tornar-se inteligente além das limitações da genética permanece. A verdade comprovada pela neurociência é que, assim como o corpo, a mente pede exercícios e desafios semanais.
Entre métodos indianos, chineses e japoneses, os brasileiros estão disseminando formatos atraentes da chamada neuróbica ou ginástica cerebral. Primeiro difundida como opção para reduzir danos de memória na terceira idade, a "neuróbica" já faz parte da grade curricular de escolas como o Grupo Gênese de Ensino, de Recife, e é praticada em algumas formas na Fundação Bradesco e Colégio Bandeirantes, em São Paulo. Já tem sido aplicada, ainda, especificamennte para executivos - a psicóloga Maria Rita Miranda ministra, no dia 12 de fevereiro/2008, curso sobre o tema no Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças, no Rio.
A popularização dessa ginástica acontece por iniciativas como a do engenheiro Antonio Carlos Guarini Perpétuo. Graduado no Instituto Tecnológico de Aeronáuticas (ITA), ele começou a pesquisar alternativas de ensino para o filho que, aos 12 anos, não conseguia se concentrar nos estudos, mesmo em ambientes silenciosos e sob rígida disciplina. "Conheci o ábaco, primeiro instrumento de cálculo criado pelo homem e ainda hoje muito usado na cultura oriental para desenvolvimento mental", conta. "Me encantei com essa ferramenta pedagógica e quis aplicar de forma mais abrangente no Brasil".
O resultado é demonstrado hoje nas 12 unidades da "academia" Supera, que soma 800 alunos. Perpétuo reuniu atividades estimulantes para a mente, seja para o lado direito ou esquerdo do cérebro. Por duas horas semanais, os alunos exercitam a lógica, concentração, criatividade e agilidade através de exercícios com ábaco. "O manuseio também auxilia o controle motor", diz.
Perpétuo conta as evoluções de alunos de todas as idades e necessidades - como aquele que sofreu perda de massa encefálica em um acidente, mas com exercícios feitos por um ano retomou a agilidade para falar e andar. "Quanto mais cedo começa, mais profundas são as alterações que se consegue. Mas a neurociência não sabe quantificar exatamente quanto e quando o cérebro absorve novos estímulos".
A outra parte da ginástica cerebral é a prática de exercícios como quebra-cabeça, desafios lógicos e mesmo jogo dos sete erros, conforrme a idade. É uma série de exercícios que não depende de pré-conhecimento, mas de atenção, concentração e pensamento lógico. Além dessas lições semanais, os "atletas" são surpreendidos por novos desafios a cada mês.
A "neuróbica" envolve tudo o que você pode fazer para quebrar sua rotina, desde tentar um caminho diferente para ir à escola ou ao trabalho, escovar os dentes com a mão esquerda e andar de marcha-ré", conta o engenheiro.
A competitividade no mercado de trabalho também é foco da consultora Maria Inês Felippe, autora do livro 4 C"s para competir com criatividade e inovação. O aprofundamento no tema veio com os estudos na Espanha durante o mestrado em Criatividade e Inovação. "Como nossa forma de pensar conduz o nosso comportamento, me debrucei sobre dois pilares: comportamento e conduta cerebral", conta.
Para Maria Inês, tudo convergia para o uso ou desuso do cérebro. "Quando vamos à academia de ginástica e ficamos muito tempo sem exercitar, sentimos dores e queremos desistir dos exercícios. O cérebro funciona da mesma forma, e se não o estimulamos, sentimos dores de cabeça e fadiga quando precisamos dele", argumenta.
Para crianças, a ginástica cerebral ajuda a aumentar a psicomotricidade. Em adolescentes, contribui para lidar com a impulsividaade, favorecendo o relacionamento interpessoal. Na terceira idade, é paliativa. "Além disso, a ginástica cerebral tem ajudado as pessoas no mundo corporativo, ativando a liderança e minimizando conflitos, pois favorece a flexibilização na forma de pensamento e a rapidez nas atitudes", afirma.
Ela exemplifica que profissionais da área comercial que estão sempre em campo, sentindo as mudanças do mercado, a dinâmica dos negócios e se relacionando com diversas pessoas tendem a ter resultados mais rápidos e eficazes do que profissionais que praticam atividades rotineiras. E isso tem impacto também no temperamento. "Não significa que os profissionais de atividades de rotina não mudem sua forma de pensar, mas apresentam maior dificuldade e por isso podem se beneficiar muito dos exercícios mentais e dinâmicas de grupo", diz.