A guru canadense Barbara Moses diz que o maior erro na gestão de carreira é não ter o controle da carreira.
Revista Você S.A. - por Marcos Gusmão
A canadense Barbara Moses, presidente da BBM Human Resource Consultants, com sede em Toronto, no Canadá, é uma guru pouco convencional. Ela não tem respostas prontas para as demandas de executivos insatisfeitos com sua carrreira. Quando alguém a procura, prefere ser evasiva. Mesmo assim, consegue levar seus clientes a refletir sobre o que têm feito de certo e errado para alcançar a felicidade no trabalho. Esse jeito meio solto e bastante particular de orienntar profissionais tem feito tanto sucesso nos Estados Unidos que Barbara virou colunista do site CareerJournal.com, do jornal americano Wall Street Journal.
A guru também lançou, recentemente, um serviço em seu próprio site (www.bbmcareerdev.com) para que os executivos que procuram a BBM acesssem o conteúdo de orientação profissional como se tivessem um coach pesssoal no computador. Ela ganhou notoriedade com os livros Career Pfanning Workbook, Manager"s Career Coaching Guide e What"s Next? The Complete Guide to Taking Control of Your Working Ufe (os três sem tradução no Brasil). Suas obras foram lidas por mais de 1 milhão de pessoas em cerca de 2 000 organizações ao redor do mundo. Em entrevista exclusiva à VOCÊ S/A, a canadense afirma, num raro momento de objetividade, que o maior erro que os executivos cometem ao tentar controlar a carreira é exatamente não ter controle. E isso ocorre por que muitos gerentes e diretores fazem apenas o que outras pesssoas dizem o que eles devem fazer. Um comportamento que ela, claro,abomina. A seguir, os principais pontos do bate-papo com a guru.
As companhias têm cultura e os indivíduos têm personalidade. Será sempre mais confortável se a cultura e a personalidade se combinarem, ou tiverem algo em comum. Mas voocê não pode agir de uma forma contrária à sua personalidade só porque a cultura da companhia obriga. Você tem o direito de decidir sobre seu presente e seu futuro. Não é balela: a carreira está nas suas mãos.
Alguns são mais seguros, têm mais certezas do que querem e, claro, para esses é mais fácil ter o controle da sua vida profissional. Os menos confiantes terão mais dificuldade em operar uma mudança, qualquer que seja. A questão fundamental, portannto, é se você está sendo honesto com seus sentimentos. E se expressa isso de forma correta no ambiente de trabalho. Muitos imaginam que precisam alcançar postos mais elevados na companhia. E para isso trabalham tão duro que esquecem de analisar se estão satisfeitos com o presente, com o resultado do dia-a-dia.
É difícil responder a essa pergunta, porque não se trata de ter o controle da carreira como temos de um carro. Se você se sente bem com seu trabaalho no momento e se faz algumas perguntas tipo "eu me importo com o meu trabalho?", "acredito no que esstou fazendo?" ou "isso é importante para mim?", certamente saberá se tem ou não o controle da sua carreira. O problema é que muitos profissionais deixam passar oportunidades de asssumir o controle porque pensam que precisam trabalhar duro em nome de uma determinada organização para chegar onde querem. Quem vai ao escritório disposto a fazer daquele momento o mais agradável e produtivo possível leva a melhor. Porque não interessa a ninguém trabalhar infeliz. Está no caminho certo quem se sente bem - e isso é algo que as organizações não podem controlar.
É preciso conhecer bem suas competências, reconhecer seus pontos fortes. Isso é o mais importante. Você nunca terá garantias que, depois de mudar, as coisas serão melhores. O medo faz parte e fará sempre. Mas, se você se sente confiante nos seus objetivos, terá força para seguir.
Eu falo para as pessoas buscarem o caminho da satisfação e das boas escolhas. Se é um planejamento de longo prazo? Sim, é. Mas nada assegura que, em alguns anos, o que parecia interessante já não o seja. Eu não falo para os executivos como alcançar metas corporativas para conseguir uma promoção ou algo do gênero. Eles sabem como fazer isso. Defendo a idéia de que é preciso buscar o prazer não apenas no trabalho, mas, principalmente, na vida pessoal. Sim, as pessoas querem receber uma promoção. Mas é preciso pensar que a promoção faz parte de um processo mais amplo de crescimento.
Ou ele pode acabar dando mais importância para uma atividade que não é a que lhe dá prazer, que não é aquilo que ele traz de melhor, só porque é mais valorizada na organização. Em nossa vida, nós temos diferentes necessidades. É preciso organizá-las. Aos 20 anos, talvez você esteja mais preocupado com a sua diversão e em dar atenção ao que os outros falam sobre você. Mas, c com o passar dos anos, é preciso olhar além dos outros.
Não. Você só precisa de cinco minutos da sua vida para pensar se gosta ou não gosta do que faz, se concorda ou não com o caminho que está seguindo. Isso não tem a ver com idade, nem com a fàse da carreira.
Sim, é um problema. Nem sempre se tem maturidade para se fazer uma escolha profissional tão cedo. Eu vejo muita gente que quis ser engenheiro quando era criança e se sente obrigado a seguir essa carreira mesmo quando as percepções já não são as messmas. Acho isso errado. Antes de fazer uma escolha, é preciso entender as regras da profissão e quem você é. Mas, pior que isso, é saber que muitos, mesmo após a maturidade, não sabem o que querem fazer. Isso é comum. E só existe uma iustificativa: a falta de auutoconhecimento.É analisar a própria carreira sempre, por toda a vida. Ensino as pessoas a se entenderem, não a seguir determinado caminho. É preciso perceber se o seu presente lhe satisfaz e admitir a possibilidade de mudança de setor, de empresa e até de carreira, por que não?
Depende. Todo mundo precisa de alguma especialização, mas, para ser um expert, você precisa ser realmente fabuloso. Por outro lado, muitos preferem seguir o caminho do conhecimento mais generalizado, o que não significa menos esforço. Se você esscolhe ser do grupo dos experts, é bom ter em mente que as organizações normalmente não têm espaço para especialistas, cientistas, estudiosos etc. Nos Estados Unidos, e acredito que no Brasil também, o caminho a seguir acaba sendo o acadêmico.
Mas pensar na própria felicidade não fere ninguém. Não acho que ser honesto com seus desejos o torne egoísta. Você pode e deve continuar pensando no outro. Ninguém é egoísta por pensar em como tornar a sua vida profissional mais próxima da sua satisfação. Se o executivo tem bom caráter, ele não corre esse risco.
Eu diria que isso é ridículo. Se você sabe mesmo o que quer, esse trabalho existe. Talvez precise ser um profissional autônomo ou seguir a carrreira acadêmica. É necessário considerar todas as possibilidades, até a de trabalhar apenas meio período.
Sim, se você está feliz, sabe das suas necessidades e quais são as da corporação. É importante conhecer as motivações que são importantes para você, e como distingui-las. A partir desta descoberta, sim, você conseguirá um outro nível de performance.
O grande erro dos executivos é não ter controle. Muitos fazem apenas o que as outras pessoas dizem o que eles devem fazer, usam a opinião dos outros como suas e, mais grave, utilizam uma definição de sucesso que não é exatamente a deles. Sucesso na carreira é, definitivamente, algo muito pessoal. Cada um sabe o que é.
De cada dez executivos atendidos pela canadense Barbara Moses, sete dizem que fazem o que fazem por acaso. Para esses, o emprego nem sempre é apropriado ao seu perfil. Segundo Barbara, isso ocorre porque a maioria está mais preocupada com as tarefas do dia-a-dia do que com aquilo que sabe fazer de melhor. Para não cair nessa armadilha, Barbara recomenda o seguinte:
- Dedique um tempo para pensar no que é aprendizado em sua vida profissional (e descubra se você está realmente em crescimento).
- Separe sua identidade da sua profissão ou cargo. E pense em si mesmo como gestor do seu portfólio de habilidades, pois elas podem ser aplicadas em outro trabalho.
- Seja honesto com o que é. Evite querer e ser aquilo que os outros acham que você deveria querer e ser.
- Pense grande. Abra-se a novas idéias e seja criativo.
- Busque feedback. Se não está muito seguro de suas escolhas, cheque-as confrontando com a percepção de pessoas que conhecem você bem.
- Reveja suas prioridades freqüentemente. E não as deixe apenas na memória. Você pode escrevê-las num diário ou num arquivo de computador. De preferência, sublinhe as mais importantes.
- Organize suas metas para realizar seus sonhos. Lembre-se que você pode enriquecer sua vida identificando uma pequena conquista. Pequenas ações têm um enorme impacto na sua satisfação pessoal.