Como os curso de circo, teatro ou improviso podem ajudar no sucessoprofissional.
Revista Época - por Flávia Yuri
A arquiteta Daniela Rosselli nunca havia pensado em estudar teatro. Desde os 9 anos de idade ela queria ser arquiteta. Hoje, aos 36, é coordenadora de projetos num escritório de arquitetura em São Paulo. O que levou para o curso de teatro da Fundação Álvares Penteado não foi a vontade de mudar na área. Nem busca por um hobby. "Procurei o teatro quando fui promovida. Eu queria melhorar minha comunicação com equipes e clientes", diz.
Assim como Daniela, pessoas de várias áreas têm encontrado nos cursos lúdicos ferramentas úteis para se desenvolver profissionalmente. Além do teatro, o circo, as técnicas de palhaço, os cursos de contação de histórias e os diferentes tipos de jogo - de quebra-cabeças a eletrônicos - já entraram para a grade de treinamento das companhias.
Cada treinamento trabalha diferentes aspectos nos profissionais e até mesmo na estratégia da empresa. Mas, de forma geral, o principal apelo desse tipo de curso é que o ambiente lúdico ajuda o profissional a encarar um ponto fraco de sua formação ou de seu perfil. "Nessas atividades, as pessoas baixam a guarda e se mostram sem artifícios ou defensiva", diz Marisabel Ribeiro, psicóloga e consultora da Mercer, especializada em treinamentos para empresas.
Em 2009, a rede de escolas de informática Bit Company procurou uma trupe de circo para montar um curso para os donos de franquias da marca. O objetivo era estimular a superação e o trabalho em grupo. Os franqueados construíram uma pirâmide humana, se arriscaram no trapézio e até na corda bamba. "Percebi que posso enfrentar novos obstáculos", diz Wellington Alves Martins, proprietário da Bit Company de Araxá, em Minas Gerais.
Treinamentos que permitem simulações da realidade e promovem competições são muito usados quando o foco é estimular a capacidade de análise e a tomada de de
cisões. Esse é o caso dos cursos com jogos eletrônicos e de tabuleiro. No banco Bradesco, do caixa da agência ao presidente, todos já passaram por algum curso com o uso de jogos. Só em 2010 foram realizados 140 mil treiriamentos desse tipo. No fim do MBA montado pelo banco, o gerente de agência André Guimarães colocou em prática boa parte da teoria que estudou num jogo que simulava o ambiente econômico de um país. "O game é envolvente e facilita a fixação do conteúdo", diz.
A ONG Doutores da Alegria trabalha há 20 anos levando palhaços até as crianças internadas em hospitais. Desde 1993, resolveu estender seus serviços para as empresas. "Há pontos em comum entre os dois ambientes", diz Wellington Nogueira, fundador da ONG. "A gente cultiva hábitos doentes em vários setores da vida. No trabalho, inclusive." Na palestra montada para empresas, Nogueira mostra como um palhaço cobre o outro num momento de fraqueza e como funciona a interação com as crianças internadas. Lívia Tomazini, funcionária da distribuidora de TV por assinatura ViaCom, diz ter se emocionado com a apresentação. "Eles mostram como a interação entre as pessoas melhora quando olhamos para o que está saudável na situação, em vez de olhar para a dificuldade ou a doença", afirma.
Há casos de empresas que pegaram carona em treinamentos alternativos para alinhar sua estratégia de comunicação. Foi o caso da americana GE. A empresa está en
volvida em diversos négocios, da fabricação de turbinas de avião a lâmpadas domésticas. Um deles, de fornecimento de sistemas de informação para empresas financeiras, sofreu com a crise econômica de 2008. "Por causa disso, toda a GE global se viu às voltas com boatos sobre a saúde da corporação", diz Neivia Justa, gerente de comunicação da GE no Brasil. "Foi aí que percebemos que boa parte dos funcionários não conhecia todas as atividades da empresa. O negócio para financeiras é só parte das dezenas de coisas que a GE faz. Surgiu a necessidade de contar isso para os funcionários e clientes." Para isso, a companhia ensinou técnicas de contação de histórias para funcionários de todo o mundo. Dessa iniciativa nasceu um blog global, que conta histórias positivas dos clientes da empresa. Depois, os funcionários criaram um videoblog. Nos minivídeos de três minutos, entram assuntos pessoais e até papo de pescador. Só o trabalho é censurado.
• O lúdico invade o trabalho
Cursos de contação de histórias, de teatro, de circo e que usam games para profissionais.
- Jogos eletrônicos, de tabuleiro e quebra-cabeças
Os jogos estimulam a rapidez na tomada de decisões, a capacidade de trabalhar em equipe e, no caso dos eletrônicos, a simulação de ambientes próximos à realidade.
- Como contar histórlas
Ensina a transformar números e dados áridos em narrativas, É usado também para alinhar o discurso dentro da empresa e para ajudar os profissionais a falar bem com públicos diferentes.
- Pecha Kucha
Essa técnica criada no Japão consiste em mostrar 20 slides em 20 segundos para que a pessoa crie uma narrativa a partir dela. Estimula a criatividade e a capacidade de improviso.
- Circo
Atividades como cama elástica, trapézio, pirâmide humana e malab barismo são usadas para despertar a percepção de que é estimulante encarar novos desafios e que é importante confiar nos colegas.
- Teatro
Práticas de cena e improvisação são usadas para vencer a timidez e melhorar a oratória.
- Palhaçada
A ONG Doutores da Alegria dá palestras motivacionais e oficinas para ajudar a lidar com imprevistos com bom humor. O participante recebe uma certificação Riso 9000.