Profissionais de personalidade complicada tendem a prejudicar o andamento dos negócios, piorar o ambiente de trabalho e tornar a vida dos subordinados um tormento.
Revista Você S/A - por Caroline Marino
O paranaense Antonio Carlos Ferreira da Silva Junior, de 30 anos, gerente de controladoria da Positivo, fabricante de produtos de informática, com sede em Curitiba, sempre teve uma personalidade forte. No trabalho, frequentemente era rotulado como uma pessoa complicada de lidar. "O profissional difícil fica sempre na defensiva, é reativo, tem baixo nível de autoconhecimento e, normalmente, é dominado por emoções e sentimentos negativos", diz Vera Martins, autora do livro Tenha Calma!, da Editora Campus/Elsevier e especialista em medicina comportamental, de São Paulo. A forma como Antonio Carlos se relacionava com o chefe, pares e subordinados se encaixava perfeitamente na definição. Intolerante com atrasos ou erros, ele também era ríspido na fala com os colegas de escritório. "As pessoas tinham dificuldade de me abordar. Diziam que eu era exigente e tentava me impor", diz. Com esse jeito de agir, Antonio Carlos afastava as pessoas de si. "Os colegas passaram a me evitar por causa do negativismo." Até o chefe começou a evitá-lo. Há seis meses, orientado pelo diretor de recursos humanos, Antonio Carlos decidiu buscar a ajuda de um coach. Hoje, já sente os reflexos da mudança. O executivo tenta ser mais cordial e investe no relacionamento aberto e mais leve com a equipe, que está mais motivada. "Sinto-me até mais educado", brinca o gerente.
Antonio Carlos é um exemplo de profissional de difícil relacionamento que percebeu a necessidade de procurar ajuda. Segundo Vera Martins, pessoas de personalidade mais complicada são inseguras, têm medo de ser vistas como incompetentes ou de não ser aceitas e reconhecidas. Esses fatores, muitas vezes, fazem com que a pessoa tenha dificuldade de se autovaliar e ouvir feedback. "Qualquer um, em um momento de incerteza, pode se tornar um profissional assim", diz Vera. Ela cita algumas frases comuns quando se fala de alguém difícil de lidar: "Não sei como abordá-lo", "Ele é pavio curto e não escuta ninguém" ou "Não dá para conversar com ele pois para tudo ele tem uma justificativa". Se você já escutou frases do tipo, está na hora de rever seus conceitos. Isso porque a maior parte das demissões acontece pelo aspecto comportamental, como lembra Eduardo Ferraz, consultor de gestão de pessoas. "Quase 70% das demissões estão relacionadas ao comportamento, e não à parte técnica", afirma. Segundo ele, apesar de não mudar de personalidade, quem possui traços difíceis deve tentar administrá-los ou buscar empresas onde o perfil agressivo, por exemplo, seja valorizado.
É claro que cada um tem seu próprio jeito de lidar com as diversas situações no ambiente de trabalho - há os profissionais mais diretos e há os mais políticos. Porém, Vera ressalta que aquele cujo temperamento pode prejudicar o desempenho de uma equipe inteira e o andamento dos negócios tem de tentar mudar. De acordo com ela, um profissional difícil não consegue criar vínculos e parceiros no trabalho. "Hoje em dia, as relações profissionais exigem reciprocidade e interdependência para agilizar os processos e a tomada de decisões", afirma.
• Sem rótulos
Para não ser rotulado como um profissional difícil, uma boa dose de bom humor vai bem. "Você pode ser alguém difícil chato e ríspido ou ser um difícil bem-humorado. Isso faz toda a diferença", afirma Vera. De acordo com ela, a assertividade também pode ajudar. Se não quer ser rotulado como uma pessoa complicada, seja assertivo. "Diga o que pensa, sente e precisa, sem rodeios ou constrangimento." Para a especialista, é preciso falar com firmeza e autoconfiança, mas sem usar palavras e gestos agressivos. "Mantenha sempre o respeito e a educação e esteja sempre embasado em fatos e dados para vender suas ideias e administrar conflitos."
Desenvolver habilidades de comunicação, resolução de conflitos e relacionamentos interpessoais também pode ser uma boa ferramenta de auxílio, já que dependendo de sua área de atuação não é suficiente ter um grande conhecimento técnico sobre um produto ou serviço se você não se relaciona bem com os outros. "Isso pode, até mesmo, impedir o crescimento de uma carreira, de pendendo da forma que um diálogo é conduzido, seja uma conversa difícil, seja uma avaliação de desempenho ou um feedback", afirma o consultor Karim Khoury, autor do livro Vire a Página - Estratégias para Resolver Conflitos, da Editora Senac. De acordo com Karim, esse comportamento pode gerar estresse, desgaste e ressentimento no ambiente corporativo.
Comunicar-se e relacionar-se com pessoas no trabalho pode ser um desafio desgastante, ou não. Depende da sua forma de agir e da maneira como conduz uma conversa. Pessoas com características mais difíceis, como arrogância, impaciência e agressividade, podem colocar tudo a perder. Pense nisso.
• Perfis complicados
Veja a seguir os tipos mais comuns de profissionais difíceis no ambiente de trabalho e como lidar com eles:
- Impositivo
Principais características
Inflexível: nunca abre mão de sua vontade.
Autoritário: usa o poder como argumento.
Agressivo: intimida os colegas.
Egoísta: ignora opiniões, sentimentos e necessidades alheias.
Destrutivo: faz críticas depreciativas
Antipático: tem dificuldade de se relacionar.
Como lidar
Seja assertivo e diga claramente e com firmeza o quanto aquele comportamento agressivo o incomoda e como você quer ser tratado. Além disso, procure entender qual é o motivo da agressividade para deíxa-lo seguro e sem necessidade de agredir. Certamente ele vai confiar mais em você e a comunicação será mais tranquila.
- Vítima
Principais características
Negativo: está sempre vendo o lado ruim das situações e dizendo coisas desagradáveis.
Pessimista: não se entusiasma com mudanças e sempre acha que nada vai dar certo.
Insatisfeito: sempre reclama da situação na empresa e das injustiças Que sofre.
Folgado: dá um jeito de livrar-se das piores tarefas.
Como lidar
Não alimente a insatisfação das vítimas com comentários negativos sobre a empresa, o trabalho, os colegas e o chefe. Ouando elas reclamarem, estimule-as a resolver o problema com a pessoa envolvida na situação que as incomoda.
- Dominador
Principais características
Argumentador: defende suas ideias com excessivo vigor.
Do contra: sempre discorda da opinião do outro para mostrar que tem razão.
Arrogante: faz muitas objeções e dá a impressão de que quer prejudicar o colega.
Egocêntrico: tem dificuldade de ouvir, só concordando se o argumento do colega tiver respaldo em fatos e, claro, concordar com ele.
Como lidar
Antes de dizer suas ideias, escute com atenção tudo o que ele tem a dizer. O dominador precisa sentir que suas ideias foram ouvidas. Ouando for conversar com ele. esteja preparado com dados convincentes.
- Passivo
Principais características
Bonzinho: cede em prol dos interesses do colega, buscando aprovação.
Permissivo: evita confrontos e se mostra amável e extremamente colaborador.
Desorganizado: não sabe dar limites e se perde em suas atribuições.
Hesitante: não se posiciona em momentos importantes, não dá ídeias, não antecipa problemas>
Duvidoso: não assume responsabilidades nem pessoais nem no trabalho.
Como lidar
Estimule a participação dos passivos, pedindo opiniões e fazendo perguntas para que se possionem e assumam responsabilidades em relação ao trabalho.
- Dissimulado
Principais características
Inescrupuloso: assume o crédito pelo trabalho dos outros para subir na carreira.
Desonesto: finge amizade e colaboração para obter a confiança do colega e, assim, conhecer as suas fraquezas para usá-Ias a seu favor.
Desleal: oferece ajuda para demonstrar a fraqueza do colega, sempre em público.
Egoísta: não tem intenção honesta.de ajudar o outro.
Bajulador: quando precisa de algo ou de alguém, acha que tem de seduzir, massageando o ego do outro.
Como lidar
Registre tudo o que foi discutido e sempre peça fatos e dados que comprovem aquilo que o manipulador diz.
• Sem estresse
Vera Martins dá algumas sugestões para tornar o dia a dia de trabalho mais leve com chefe difícil.
- Evite procurá-lo em dias cocados, com muitos compromissos e reuniões, por exemplo.
- Verifique, sempre, se ele pode falar, antes de invadir a sala dele. O uso do e-mail é uma boa saída.
- Se ele for do tipo dono da verdade, evite contrariá-lo. Escute-o primeiro e depois dê sua opinião. Mas sugira não afirme.
- Não tente manipulá-lo e não o critique. Isso cria barreiras.
- Coloque-se no lugar dele. Entender como seu chefe funciona pode ajudar a argumentar melhor e tornar seu posicionamento mais seguro.
- Reconheça os pontos fortes de seu chefe, mas sem exageros. Bajulação, nunca.