Aprender inglês depois de adulto dá um pouco mais de trabalho, mas a sensação de vitória é maior ainda. E deixar de passar vexame não tem preço.
Revista Veja - por Dolores Orosco
A hora da verdade, quando o estômago embrulha, o ar falta e as palavras simplesmente desaparecem, bate para todo mundo. Para cada um de nós, ler e falar em inglês pode ser fácil, difícil ou impossível, mas inevitavelmente haverá algum tropeço. Há os casos caricaturais, como o dos brasileiros que passam alguns constrangedores momentos puxando a porta onde está escrito push (empurrar). Ou o dos que demoraram algum tempo até descobrir que o comando copy and paste dos computadores (copiar e colar) não significava que o texto reproduzido deveria ser colocado numa pasta, que dirá empastelado. Uma palavra parecida às vezes desencadeia a síndrome do pânico Iinguístico no próprio corredor do avião, onde uma mulher de gestos imperativos pergunta "Meat or pasta?". Em situações normais, sem aquele sotaque que parece falado em klíngon, a língua fictfcia de Jornada nas Estrelas, muitas pessoas até entenderiam que estão sendo instadas a escolher entre carne ou massa. Mas o "branco" engole tudo, inclusive um prato que é o oposto do que se pretendia comer. A começar pela história do bailarino Thiago Soares que no começo da carreira em Londres cumprimentou a rainha Elizabeth II com um excessivamente descontraído "oi", nas páginas desta reportagem há casos engraçados de erros provocados pelo desconhecimento do idioma, mas acima de tudo o que muitas pessoas estão fazendo para aprender inglês depois de adultas e como isso melhora a vida delas.
O ensino do inglês é notoriamente deficiente no Brasil. Na escola pública, aprende-se pouco ou nada. Muitos colégios particulares resolveram a questão com uma terceirização bancada pelos pais por meio de cursos independentes. Nem todos eles garantem a fluência plena e, cientes de que não saber inglês equivale a uma sentença de imobilidade profissional para os filhos, muitos pais se sacrificam para manda-los ao exterior para fazer intercâmbio ou estudar o idioma in loco. Aprender um idioma estrangeiro demanda realmente tempo, investimento e estudo. Os que desistiram, alegando inconsistências como língua travada, hoje têm mais oportunidades de recuperar o tempo perdido, desde viagens nas quais a famflia inteira aprimora o inglês até cursos on-line volta dos para atividades específicas, que podem não ensinar a ler Shakespeare, mas contribuem efetivamente para melhorar no campo em que a falta de domínio da língua mais pesa, o bolso. "Posso estudar de madrugada, meu horário livre, e aprendi a fechar negócios com clientes estrangeiros por e-mail, o principal meio de comunicação na minha profissão", explica Wesley Silva, de 34 anos, que tem uma atividade sem tradução em português - é webdesigner. Ele perdia um cliente atrás do outro por não entender o que eles queriam. Aprendeu, por exemplo, que, quando alguém pede para resolver um problema num site, usa o verbo to fix, e isso não quer dizer fixar alguma coisa. Até a saudação final nas mensagens é importante, sabe Wesley, depois de aprender que não se mandam hugs, os corriqueiros abraços entre brasileiros, que soam estranhos e até ameaçadores a estrangeiros.
O inglês foi disseminado mundo afora pelo colonialismo britânico e pela extraordinária expansão econômica dos Estados Unidos. Voltado para dentro em seu magnífico isolamento, o Brasil ficou à margem de grande . parte desses processos. A língua franca das elites ilustradas ou endinheiradas continuou a ser o francês mesmo bem depois de seu apogeu; os educacionalmente menos privilegiados demoraram a se dar conta do maior de todos os incentivos, o autointeresse em aprender inglês para melhorar no trabalho e nos negócios. Nem se fala da impotência, indiferença ou até hostilidade das autoridades responsáveis pelo ensino público, que a certa altura inventaram que o ensino do espanhol seria alternativa ao do inglês. Saber espanhol é desejável, louvável e útil (isso se acreditarmos que o idioma é realmente ensinado). Mas prestar serviços a um indonésio, fechar um contrato com um indiano ou hospedar um sueco são atividades possíveis apenas em inglês, e assim continuará sendo por muito tempo. Em nível planetário, nos próximos dez anos mais de 2 bilhões de pessoas procurarão um curso de inglês. No Brasil, cerca de 10,5 milhões de pessoas falam inglês, o que corresponde a pouco mais de 5% da população, segundo levantamento do British Council, o órgão de disseminação de cultura e negócios do governo britânico. "Dentro desse número já pequeno, só 20% se comunicam bem. A maioria, 43%, tem uma noção inicial do idioma e 37% conseguem estabelecer uma conversa, mas com muita dificuldade no vocabulário e na compreensão", diz a sua diretora, Virginia Maria Garcia. Num teste recente feito pela empresa de intercâmbios GlobalEnglish com 108 000 funcionários de rnultínacionais de 76 países, os 13 000 brasileiros analisados atingiram a nota 2,95 num total possível de 10 pontos.
Quem fala inglês bem pode ganhar de 30% a 50% a mais do que quem tem qualificações equivalentes, mas não o domínio do idioma. Entre as empresas internacionais, 70% procuram funcionários que falem inglês. Os próprios profissionais fazem uma avaliação mais rigorosa ainda: 92% acham que o ing glês é importante para a carreira. Aprender um idioma na fase adulta da vida é menos automático do que na idade escolar. "O ideal é a criança ter contato desde os 6 anos, quando já está praticamente alfabetizada na língua materna. Nessa idade, ela tem o cérebro mais plástico e aberto para a absorção de um segundo idioma", explica José de Almeida Filho, professor de teoria do ensino de línguas na Universidade de Brasília. A habilidade para absorver uma nova língua atinge o pico entre 8 e 12 anos. Depois disso, o processo é de refluxo. "Como já não está mais imerso no ambiente da escola, o adulto perde muitas de suas ferramentas de assimilação. Para alguns, é chato, por exemplo, ler textos fazendo setinhas e usar canetas diferentes para sublinhar palavras", diz Lizika Goldchleger, gerente acadêmica da Cultura Inglesa. "O estudante mais velho já é um profissional respeitado. A última vez que se submeteu totalmente ao professor foi muitos anos antes, e isso o deixa em uma situação quase defensiva." Em compensação, o adulto sabe perfeitamente por que precisa aprender inglês e é capaz de avaliar melhor custos e benefícios. As dificuldades etárias, históricas e culturais para o aprendizado de inglês hoje também são mais bem compreendidas. Ana Gabriela
Pessoa, mestre em politicas educacionais pela Universidade Harvard, desenvolveu um curso de inglês para adultos, feito através de internet e celular, justamente para compensar alguns desses obstáculos. "O curso não é dado 100% em inglês. O adulto que não sabe nada da língua precisa fazer associações com o português para não se sentir desmotivado", diz Ana Gabriela. "Além disso, o software do curso dirige o aluno automaticamente para aulas específicas sobre a profissão dele. Temos muitos alunos que são garçons, vendedores e secretárias." Muitos perceberam a oportunidade dos próximos grandes eventos, a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, que trarão 980 000 estrangeiros a um país desesperadamente carente de pessoas que falem inglês.
De forma geral, os especialistas recomendam duas aulas semanais com duração de duas horas cada uma, complementadas com mais duas em casa - que podem ser de exercícios, leitura ou até vendo filmes sem legenda. Nesse ritmo, sem intensivos nem viagens complementares, um adulto leva dois anos para falar um inglês intermediário e quatro para um avançado. Dá um total aproximado de 750 horas-aula. Só para comparar: o mandarim falado pela maioria dos chineses, considerado com certo exagero a linguagem do futuro, exige no mínimo 2 200 horas, das quais a metade em território nativo. Os próprios chineses se dedicam de forma avassaladora ao estudo do inglês, incluído desde o fim dos anos 80 em um exame chinês parecido com o Enem - que só passou a ter inglês em 2010. No vestibular chinês, o Gao Kao, o inglês tem peso de 25% entre as provas totais. "A partir dos 7 anos, o aluno estuda até seis horas semanais de inglês e, na juventude, essa carga horária chega a dez boras", diz Jiang Shixue, professor da Academia Chinesa de Ciências Sociais. Aprender inglês - da mesma forma que mandarim, espanhol, russo ou dinamarquês - evidentemente tem um valor mais do que utilitário. O aprendizado de uma língua é uma jornada para a vida toda, cheia de desafios e recompensas. A diversidade do vocabulário e o sintetísmo do idioma inglês combinam-se de maneiras que as melhores traduções não conseguem abranger totalmente. Nada substitui a pureza quase bíblica da frase inicial do livro O Hobbit, com que J.R.R. Tolkien iniciou a saga que se transformaria em O Senhor dos Anéis: In a hole in the ground there lived a hobbit, sobre o modesto e pequeno ser que vivia numa toca. Ou a perfeição quase inatíngível de John Keats no clássico poema sobre a eternidade da beleza: A thing of beauty is a joy to for ever. / Its loveliness increases; it will never / pass into nothingness. Mas também já alivia muito apenas poder escolher entre a carne e a massa oferecidas pela comíssária de bordo, embora no fim o gosto seja notavelmente parecido.
• Cheque aqui a sua competência
O professor Jeff Stranks, inglês radicado no Brasil há vinte anos, especialista em transmitir e avaliar o conhecimento de seu idioma, fez para VEJA o seguinte teste:
For each question, choose the conect answer: a,b,c or d
1. Fefipe Massa is a well-known F1__________.
(___) a) driver (___) b) pilot (___) c) motorist (___) d) racer
2. I"ve lived here_________ 10 years.
(___) a) since (___) b) from (___) c) for (___) d)to
3. I got to the airport late and _______ my flight to New York.
(___) a) lost (___) b) missed (___) c) dropped (___) d) failed
4. A: "It"s my birthday today!" B: "Oh!________ !"
(___) a) Too good (___) b) Congratulatlons (___) c) Happy birthday (___) d) Much happiness
5. You can"t trust him. He never ________ the truth.
(___) a) says (___) b) talks (___) c) speaks (___) d) tells
6.1 practise as much as I can, but I"m not _________a lot of progress.
(___) a) getting (___) b) doing(___) c) taking (___) d) making
7. I can"t find my glasses anywhere. I_______ have left them at home.
(___) a) can (___) b) ought (___) c) must (___) d) would
8. I don"t see her very often but she comes to my house__________.
(___) a) eventually (___) b) now and again (___) c) finally (___) d) at last
9. My sister _________ her car for a few years now.
(___) a) has (___) b) has had (___) c) is having (___) d) had
10. "The" weather forecast for today: There will be lots of sunny spells, but during the aftemoon we might see cloud building up and there"s a chance of a sh lign="justify">
7. I can"t find my glasses anywhere. I_______ have left them at home.
(___) a) can (___) b) ought (___) c) must (___) d) would
8. I don"t see her very often but she comes to my house__________.
(___) a) eventually (___) b) now and again (___) c) finally (___) d) at last
9. My sister _________ her car for a few years now.
(___) a) has (___) b) has had (___) c) is having (___) d) had
10. "The" weather forecast for today: There will be lots of sunny spells, but during the aftemoon we might see cloud building up and there"s a chance of a shower or two, but that"s the
exception rather than the rule" Which of these statements is true?
(___) a) There is a smal! possibility of rain
(___) b) There is a big possibility of rain
(___) c) It definitely won"t rain
(___) d) It will definitely rain
11. A: "My best friend is coming to stay with us." B: "Really?_______ ?"
(___) a) How long for (___) b) How far (___) c) How"s that (___) d) How much time
12. I didn"t ________ driving home after the party since I"d had a few drinks.
(___) a) desire (___)b) want (___) c) wish (___) d) fancy
13. My nephew___________ flu last weekend.
(___) a) carne apart (___) b) carne down with (___) c) carne across (___) d) carne on
14. I have to_________ my essay by Friday.
(___) a) hand out (___) b) hand off (___) c) hand in (___) d) hand down
15. Oh, Sara, could you _______ me to phone the dentist this afternoon?
(___) a) remember (___) b) recaIl (___) c) remind (___) d) keep in mind
16. The results should be ready _______Friday.
(___) a) until (___) b) to (___) c) by (___) d) till
17.I______________ to do a round-the-world trip next year.
(___) a) pretend (___)b) intend (___) c) wish for (___) d) long for
18. They won the championship__________ not scoring many goals.
(___) a) despite (___) b) in spite (___) c) although (___) d) even tnough
19. He won gold medals in 5 Olympics in a row,____________ is almost unheard of.
(___) a) what (___) b) that (___) c) which (___) d) who
20. People are very worried that a civil war might__________ there.
(___) a) come out (___) b) go out (___) c) start out (___) d) break out
21. I wouldn"t have eaten at that restaurant if____________ it was so bad.
(___) a) I"d known (___) b) I knew (___) c) I"d know (___) d) I"d have known
22. "A lot of people in our índustry haven"t had very diverse experiences. So they don"t have enough dots to connect, and they end up with very linear solutions without a broad perspective on the problem. The broader one"s understanding of the human experience, the better design we will have." (Steve Jobs) Which of these statements is true, according to Jobs?
(___) a) Companies need people who specialize in specific areas
(___) b) Non-linear solutions oríginate from people with varied experiences
(___) c) Good design is based on joining dots
(___) d) Working in this industry helps people develop a broad perspective of problems
Qual o seu nível?*
De 1 a 5 respostas corretas: nível pré-intermediário. Entende frases e expressões usadas frequentemente e provavelmente pode se comunicar de forma simples.
De 6 a 10 respostas corretas: nível intermediário. Pode entender os pontos principais do que é falado; provavelmente consegue se comunicar em várias situações em viagens e expressar opiniões de forma simples.
De 11 a 16 respostas corretas: nível alto-intermediário. Compreende as ideias principais de um texto complexo; provavelmente consegue interagir com confiança, espontaneidade e fluência com falantes nativos da língua.
De 17 a 22 respostas corretas: nível avançado. Além de conseguir compreender uma variedade de textos longos e complexos, é capaz de entender significados implícitos nos textos; provavelmente faz uso fluente e eficaz da língua nos campos social, acadêmico e profissional
*Descrições baseadas no Quadro Europeu Comum de Referência para as línguas (Common European Framework of Reference for languages)
Respostas: 1. a); 2. c); 3. b); 4. c); 5. d): 6. d): 7. c); 8. b); 9. b); 10. a); 11. a); 12. d); 13. b); 14. c); 15. c); 16. c); 17. b); 18. a); 19. c); 20. d); 21. a); 22. b)