Estudo da Universidade de Chicago mostra que crenças em estereótipos atrapalham, e muito , o aprendizado.
Revista Scientific American - por Suzana Herculano-Houzel
Aprender é uma propriedade universal do cérebro. Essencialmente, todas as conexões estabelecidas no sistema nervoso podem ser alteradas conforme são usadas. O aprendizado ocorre à medida que as conexões que "funcionam" - ou seja, que contribuem para um comportamento bem-sucedido - são reforçadas com o uso, impactando cada vez mais o comportamento, ao mesmo tempo que as conexões que "não funcionam" se enfraquecem, até que são simplesmente eliminadas. Por isso, o aprendizado depende de prática: é a experiência que guia a transformação do cérebro. Assim nos tornamos melhores naquilo que mais fazemos.
É importante aceitar que diferenças inatas no processo de aprendizado existem, assim como há as que tornam nossa pele mais clara ou escura. Contudo, é fundamental reconhecer que, desde que não exista algum impedimento biológico real (o que é raro), o maior determinante do aprendizado é a prática: o uso que se faz do próprio cérebro.
Por outro lado, há outro fator muito influente e bem mais difícil de reconhecer: nossas expectativas sobre o próprio aprendizado. Elas são, em geral, baseadas em estereótipos que muitas vezes adotamos sem nos dar conta e que acabam mudando para sempre os rumos do aprendizado - e não necessariamente para melhor. Considere, por exemplo, a matemática. Há quem a adore, há quem a deteste, às vezes a ponto de ter uma resposta emocional negativa, de ansiedade, só de pensar em fazer contas "de cabeça". Claro que a motivação para aprender, necessária para se levar adiante a prática que move o aprendizado, será menor em quem tem esse tipo de ansiedade - que é mais comum em mulheres e meninas do que em homens e meninos. Para alguns, isso é uma evidência de que a menor aptidão do sexo feminino para a matemática já se manifesta desde a infância.
No entanto, não há provas de uma inaptidão inata em um dos sexos para os cálculos. o contrário, a ansiedade feminina em relação aos números é aprendida - por exemplo, com a própria professora de matemática. Um estudo recente da Universidade de Chicago mostrou que, no início do ano letivo, todos os alunos dos primeiros anos do ensino fundamental tinham desempenho semelhante em matemática. Ao final do ano, contudo, as meninas que tiveram aulas com professoras inseguras no ensino da disciplina tiveram pior desempenho nas provas do que as outras alunas. Além disso, elas se mostraram mais crentes no estereótipo "meninos são melhores em matemática e meninas em leitura".
Isso não significa que professoras desconfortáveis em ensinar matemática são as culpadas pelo pior desempenho de suas alunas. Estereótipos negativos estão em toda parte, desde a cor da decoração do quarto de dormir até escolhas que os pais estimulam nas crianças. Muitas já chegam à escola esperando menos de si. E algumas delas serão professoras da disciplina um dia - e nada mais natural que projetem, involuntariamente, as expectativas que tiveram em relação a si mesmas na infância.
Por isso, ainda que diferenças inatas existam aqui e ali, é muito mais justo, positivo e democrático partir do princípio de que todas as crianças têm as mesmas potencial idades.
O que importa é ajudar cada uma a se encontrar, dando lhe oportunidade para descobrir a grande motivação que poderá levar, através de grande esforço e dedicação, ao desempenho excelente.