Pesquisa traçou o perfil do paciente; foram ouvidos 1.275 diabéticos entre 18 e 75 anos de idade em 11.528 domicílios em todo o país.
Jornal Folha de São Paulo - por Fernanda Bassette e Gabriela Cupani
O diabetes atinge 11% dos brasileiros, mostra um estudo que traçou o perfil da doença no país e será apresentado hoje no congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, em São Paulo.
Este é o levantamento mais recente sobre a prevalência da doença no Brasil - o último foi realizado pela Sociedade Brasileira de Diabetes em 1988 e a prevalência era de 7,6%.
A pesquisa ouviu 1.275 diabéticos, entre 18 e 75 anos, em 11.528 domicílios do país.
"Há outros dados sobre a doença, mas é a primeira pesquisa que traçou um perfil completo do diabético mostrando quem é ele, como ele se trata, do que precisa", diz o cirurgião Luiz Vicente Berti, presidente do congresso e um dos coordenadores do estudo.
Ele diz que o numero encontrado está dentro do esperado, mas pode ser até maior, pois muitos podem ter a doença sem saber. "Não sabemos se há um crescimento dos casos devido ao aumento da obesidade ou se sempre foi assim e o diagnóstico está melhor",avalia.
"Na pesquisa feita na década de 80, metade não sabia do diagnóstico de diabetes. Isso porque é uma doença silenciosa, não dói, não sangra e por isso é subavaliada", lembra o endocrinlogista Carlos Eduardo Couri, da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto.
O estudo mostra que só 20% dos doentes têm plano de saúde. Esses costumam ir ao médico apenas quatro vezes ao ano - o ideal seria controlar a doença a cada dois meses. Os que não possuem seguro vão ao médico, em média, 1,7 vez ao ano.
Um dos dados que chamaram a atenção foi o fato de que a maioria dos diabéticos não são obesos - 67,6% dos entrevistados têm peso normal ou sobrepeso. Como era esperado, grande parte deles, 79,6%, são portadores do tipo 2 da doença.
Esses dados coincidem com os de outro estudo brasileiro, realizado pela SBD(Sociedade Brasileira de Diabetes), apresentado no Congresso Internacional de Diabetes, no Canadá, e publicado na revista "Diabetology & Metabolic Sindrome".
A endocrinologista Marília de Brito Gomes, presidente da SBD e autora do estudo, analisou dados de 1.382 pacientes com diabetes tipo 2, que estavam em tratamento havia mais de seis meses em 13 hospitais públicos de 8 cidades.
Entre os pacientes avaliados, 35,4% eram obesos, 42% estavam com sobrepeso e 22,6% tinham o peso adequado.
• Fatores de risco
Gomes avaliou ainda o controle glicêmico, reuniu os fatores de risco (colesterol elevado, tabagismo, sedentarismo, pressão, idade) e calculou a probabilidade de desenvolvimento de doença cardiovascular.
Quase 30% dos voluntários reunem ao menos tr~es fatores de risco para problemas cardiovasculares - uma das principais complicações da doença. O fator mais presenta foi o colesterol alto (encontrado em 80,8% da amostra). Só 4% não tinham nenhum fator de risco.
Para Gomes, os resultados desse perfil mostram que mudanças simples de hábito - como parar de fumar, perder peso, praticar atividades físicas - podem prevenir o aparecimento do diabetes e das complicações associadas.
• Comer frutos do mar eleva risco do tipo 2 da doença
A ingestão regular de frutos do mar (camarão, mariscos, mexilhão e caranguejos) aumenta em 36% o risco de diabetes tipo 2. É o que afirma estudo com 9.801 homens e 12.183 mulheres saudáveis, publicado na revista "Diabetes Care".
Os voluntários informaram o consumo semanal de frutos do mar e de peixes brancos (bacalhau, salmão, atum e cavala). Após dez anos, 725 participanntes desenvolveram a doença.
Os pesquisadores constataram que o risco de desenvolver o problema era 25% menor entre aqueles que ingeriam uma ou mais porções de peixe por semana, enquanto o risco aumentava em 36% entre os que comiam quantidades semelhantes de frutos do mar. Os pesquisadores excluíram fatores de risco como tabagismo, obesidade e dieta inadequada.
A britânica Nita Forouhi, autora do estudo, diz que o aumento do risco pode não estar associado à ingestão dos frutos do mar, mas ao modo de preparo, com óleos, molhos e temperos que aumentam o colesterol.
O endocrinologista Augusto Pimazoni Neto, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, concorda. "As pessoas acham que consumir frutos do mar faz bem para a saúde. O problema é que elas se esquecem de preparar esses alimentos sem gordura"
O endocrinologista Roberto Betti, do Núcleo de Diabetes do lnCor (Instituto do Coração), complementa dizendo que quanto maior é a ingestão de gordura, maior é o risco de síndrome metabólica - fator de risco para o desenvolvimento de diabetes tipo 2.