Revista Scientific American
Nos anos 90, um grupo de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc, abandonou a luta armada, à qual se dedicaram praticamente a vida toda, para se reintegrar à sociedade. Como quase todos eram analfabetos, a governo colombiano ofereceu a eles a oportunidade de aprender a ler e escrever. Além disso, permitiu que o neurocientista Manuel Carreiras, da Universidade do País Basco, em Bilbao, Espanha, estudasse o que aconteceria no cérebro dessas pessoas à medida que eram alfabetizadas.
Sessenta e dois ex-guerrilheiros foram acompanhados em diferentes momentos, para permitir comparações anteriores e posteriores ao aprendizado. Técnicas de neuroimageamento revelaram a "assinatura neural da alfabetização", ou seja, as transformações pelas quais o cérebro passou e que estão exclusivamente relacionadas às habilidades de leitura e escrita. As mudanças afetaram a matéria branca (formada pelos prolongamentos dos neurônios), mas principalmente a cinzenta (que concentra os núcleos dessas células), que se expandiu acentuadamente em cinco áreas localizadas na parte posterior do cérebro, envolvidas com o reconhecimento visual de palavras e o processamento dos sons da linguagem.
Os resultados mostraram ainda como foram fortalecidas as conexões neurais nessas regiões, que são exatamente as mesmas prejudicadas nas pessoas com dislexia. Além de ilustrar as transformações neurais inerentes à alfabetização em adultos, a pesquisa abre boas perspectivas para a compreensão dos distúrbios de linguagem, particularmente dos que envolvem leitura e escrita. O estudo foi publicado na revista Nature.