Jornal Folha de São Paulo - por Ricardo Westin
Nessa idade, é comum ser viciado em internet, videogame ou televisão. Luis Antonio Gonçalves Netto não. Aos 14 anos, é louco por livros.
Esse adolescente de São José do Rio Preto (SP) desenvolveu uma curiosa habilidade: lê com rapidez, muita rapidez. Em uma hora, é capaz de devorar 300 páginas.
"Ler é muito bom", diz ele, que mora com os pais e a irmã. "Não importa o livro: longo e curto, lançamento e clássico, ficção e não ficção, até autoajuda. Leio de tudo."
O gosto pela leitura é coisa nova. Luis Antonio nunca foi de ler. "Só lia os livros da escola. Achava todos chatos."
No final do ano passado, o pai apareceu com um desafio: se tirasse alguma nota vermelha no colégio - estava no 9° ano {antiga 8a série)-, teria de ler dez livros.
E foi justamente o que aconteceu. Ele foi muito mal em história - as 13 colônias de América do Norte não eram o seu forte- e quase ficou em recuperação.
O pai, conforme o combinado, trouxe uma pilha de livros. O primeiro era "O Código Da Vinci", de Dan Brown.
Mas o que era para ser um castigo acabou virando um prêmio: "Foi o melhor livro da minha vida. Aquele suspense, aquelas referências históricas, tudo aquilo me prendeu", conta.
A partir dali, foi um livro atrás do outro -"Marley & Eu", de Iohn Grogan, "1808", de Laurentino Gomes, "Opus Dei", de John Allen ... De de zembro até aqui, 340 livros.
Na semana passada, a Folha foi à casa de Luis Antonio verificar o talento do adolescente. Apresentou -lhe "A Cidade e as Serras", de Eça de Queirós.
Ele acomodou -se no sofá da sala, acendeu uma luminária e foi embora.
Com uma mão, segurava o livro; a outra, inquieta, passava as folhas. Leu as 255 páginas em 56 minutos, com rápidas pausas para anotar palavras desconhecidas, como "mesuras", "silvando", "chalrando" e "tisnado". E explicou a história, citando personagens e passagens.
No começo, os pais ficaram abismados com a rapidez. Chegaram a achar que pulava páginas. "Tem gente que pula, mas eu não. Leio tudo", conta. "Não sei explicar como leio tão rápido. Vejo as palavras e assimilo."
• Estantes cheias
Os pais compram os livros pela intemet. Assim, evitam prejuízo. "Um "Harry Potter" custa mais de R$ 30 na livraria. Pela internet, acho por R$ 9,90", diz o pai, o vendedor Evandro Gonçalves.
A primeira estante já está cheia. A segunda, recém comprada, quase completa.
Entre os clássicos, ele cita "Dom Casmurro", de Machado de Assis. "Se acho que Capitu traiu Bentinho? Eu, pessoalmente, acho que não. Mas cada um tira a sua conclusão", divaga.
E puxa outro volume da estante. "Um livro interessante sobre traição é este: "A Farsa", de Christopher Reich."
Para Luis Antonio, não existe livro ruim. O que existem são livros "não tão bons". "Não gostei muito de "Perigo de Vida", que são contos de terror do Alfred Hitchcock. Num deles, um cara sai de carro matando todo mundo. Achei forçado."
Na escola, tantos livros lidos lhe dão mais facilidade para escrever redação. Luis Antonio, aliás, tem vontade de escrever seu próprio livro. "Só escrevi duas páginas. Sou mais rápido para ler do que para escrever."