No país, 1,3 milhão de profissionais se afastaram do trabalho por problemas emocionais, diz estudo da UnB.
Jornal Folha de São Paulo
Profissionais que ocupam cargos de alta responsabilidade estão mais suscetíveis a problemas emocionais como estresse, segundo especialistas ouvidos pela Folha. A extenuante rotina de tomada de decisões, de reuniões e de viagens são fatores preponderantes para a configuração desse quadro. As distorções no comportamento, porém, são distintas entre os gêneros. "As mulheres costumam chorar e são mais sentimentais; os homens se tornam agressivos e impacientes", compara Ana Cristina Limongi, coordenadora do Núcleo de Gestão da Qualidade de Vida do Trabalho da Universidade de São Paulo.
A especialista estima que, nos últimos cinco anos, os pedidos de demissão por questões relacionadas a estresse tenham representado de 30% a 40% dos desligamentos. Em abril, pesquisa da UnB (Universidade de Brasília) mostrou que, por problemas emocionais, 1,3 milhão de brasileiros receberam auxílio-doença em 2008.
• Pressão alta
O coordenador fiscal Mauro Barros teve que diminuir o "ritmo devido aos efeitos da sobrecarga no organismo. Com equipe reduzida na multinacional em que atuava e sob pressão da matriz, o profissional trabalhava de 14 a 16 horas por dia. As fortes dores de cabeça foram determinantes para que procurasse um hospital, onde foi orientado a utilizar um monitor de pressão. Em momento de pico, no dia seguinte à consulta, o aparelho registrou pressão arterial de 22 por 12 - pela diretriz da American College of Cardiology Foundation e da American Heart Association, ela deve ser menor que 14 por 9 em pessoas de até 79 anos. "O médico pediu para eu parar, pois estava prestes a sofrer um AVC [acidente vascular cerebral]", diz ele.
"Aproveitar momentos de relaxamento para realizar alguma atividade que faça o profissional se desvencilhar do trabalho, além de manter alimentação adequada" é importante para a saúde", afirma Ligia Raquel Brito, médica do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos.
• Após crises de choro, funcionária treina substituta e é demitida.
Mesmo em um cenário de transformação, algumas empresas não oferecem programas de apoio a funcionários. A assistente de comunicação Amanda Trolezi, 23, por exemplo, foi desligada de um escritório no qual havia atuado devido a questões de saúde emocional.
Com a demanda de traba lho e a pressão da chefia, a jovem tinha crises de choro. "Vendo meu estado, minha chefe me fez treinar uma pessoa para desempenhar as minhas funções. Após esse período, sem qualquer aviso, fui demitida", afirma Trolezi.
Para o presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida, Alberto Ogata, investimentos em programas de bem-estar são recomendados a empresas que queiram tanto aumentar a produtividade quanto reduzir gastos com saúde do funcionário.