Número de corredores só cresce; OK, mas não vale forçar a barra e ignorar os sinais que o corpo dá, como fazem muitos atletas amadores.
Jornal Folha de São Paulo - por Luisa Alcantara e Silva
São Paulo ganhou 15 mil novos corredores amadores em 2010, segundo a Federação Paulista de Atletismo. E pelo menos 17 provas de rua aconteceram na capital apenas no mês passado. A mais recente delas foi a SP-Rio, organizada pela Nike. Vinte equipes com 225 convidados, amadores, na maioria, se revezaram por um percurso de 600 km. Treze equipes tinham 13 integrantes, que corriam 40 km nos três dias de prova, e sete equipes tinham oito pessoas, que faziam essa distância por dia, durante os três dias.
A largada foi no Ibirapuera, na quinta, dia 20, e, a chegada, em Ipanema, sábado. Enquanto um corria, os outros da equipe iam de van até o posto de troca, onde quem estava correndo passava o chip para o próximo. A prova era dividida em 77 trechos: 76 postos e a chegada.
No início, animação. No fim, animação. E dores.
A estudante Iolanda Michele Cezar, 23, que o diga. Ainda no segundo dia, além de dor muscular, estava com duas unhas do pé caindo. "Sabia que poderia me machucar, mas estou aqui para correr, não vou parar."
Os problemas mais comuns, segundo Felipe Hardt, um dos coordenadores da equipe médica da prova, foram dores musculares na coxa e na panturrilha e cãibras. "Muita gente só veio reclamar de dor no último dia", disse Hardt. "Era o medo de ser cortado." Só uma participante foi tirada da competição, por estar com inchaço no joelho. E todos, ali, sabiam dos riscos que uma prova pode causar e estavam dispostos a aguentar a dor.
Quem começa na corrida se machuca por besteira. "Todo exercício causa microlesões", diz Jomar Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. "Para cicatrizar, precisa de repouso. Ou vira macrolesão." Profissionais que trabalham com corredores lembram os amadores de que é importante fazer check-up. E observar o que o corpo "fala".
O alongamento nem sempre é bom. "Em excesso, pode causar lesões", diz Victor Liggieri, fisioterapeuta e autor de "De Olho na Postura" (Summus). É importante, sempre, perguntar ao treinador o que deve ser feito. "Quem pratica esporte tem que ficar atento a sinais, como inchaço nas articulações", diz Ricardo Cury, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Joelho.
O problema é que é difícil convencer um corredor a ficar parado. Um exemplo é o estudante Marcos Motoso, 20. "O médico me proibiu de correr, mas vim", disse ele, após
correr 30 km na prova SP- Rio. André Pedrinelli, da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, alerta que, quando o corredor abusa, pode ter fratura por estresse ósseo. "Isso é normal." Normal, mas dói.
• "Comemoramos o penúltimo lugar"
Comecei a correr há dois anos. Já havia feito uma São Silvestre e duas meias maratonas, mas, quando fui convidada para correr na equipe Imprensa da SP- Rio, fiquei insegura: "Corro devagar, vou atrasar meu grupo". Mas sabia que daria tudo de mim e que isso era o importante. A prova começou e logo veio o nervoso. Meu primeiro trecho foi o 12° do percurso. Eram menos de sete quilômetros, mas revezamento traz mais responsabilidade. Estava determinada a não dar nenhuma "andadinha" e a paisagem da rodovia ajudou.
No segundo dia, eu já tinha passado vaselina para meu top não raspar na pele quando fico sabendo que meu trecho havia sido cancelado devido a obras na pista. OK... Meu último trecho, no terceiro dia, era-quase-só subida. No meio do morro, eu já me sentia morta, mas, de novo, acabei sem a "andadinha", tão querida por mim. Em toda prova, o corredor tem um objetivo. O da equipe Imprensa: era não ficar em último. Foi graças ao Daniel Chaves, único profissional, que conseguimos.
Na chegada, em Ipanema, comemoramos como se fôssemos os primeiros, embora fôssemos os penúltimos!
• Quer correr? Então vá devagar.
Para começar, você precisa:
1 Fazer check-up: Deve "incluir teste de esforço ou eletrocardiograma de esforço e avaliação postural, já que problemas na postura estática, se não corrigidos, são potencializados na corrida, podendo lesar ossos e cartilagens.
2 Buscar orientação: E importante ser acompanhado por um profissional ou assessoria esportiva com experiência em corrida. É esse profissional quem deve orientar o melhor horário, a frequência e o tempo de cada treino.
3 Caminhar: Para iniciar um programa de treino seguro, garantindo uma progressão natural e saudável, prefira caminhar. Se bem orientada e executada, a caminhada já é estímulo suficiente para aumentar a força e melhorar a técnica.
4 Alongar ou não: Não é porque todo mundo alonga que você também vai macaquear a multidão. Alongamentos devem ser prescritos por treinador ou fisioterapeuta. Nem todos precisam de alongamento, que, quando é mal feito, pode atrapalhar o desempenho e até facilitar a ocorrência de uma lesão.