Lipoaspiração faz gordura mudar de lugar. Pesquisa dos EUA mostra que, um ano após cirurgia para reduzir medidas no quadril, braços e abdome incham.
Jornal Folha de São Paulo - por Iara Biderman
Trabalho afirma que o corpo defende as reservas de energia; "lipo" não emagrece, lembram médicos. Uma lipoaspiração pode reduzir a gordura de coxas e quadril. E, com o tempo, trazer novas curvas não desejadas, diz estudo da Universidade de Colorado, nos EUA. A pesquisa, publicada no periódico "Obesity", mostrou que, em um ano, a gordura retirada das coxas volta a se acumular na parte superior do abdome e nos braços.
Os autores acompanharam 32 mulheres na faixa dos 36 anos, que tiveram suas circunferências corporais e percentuais de gorduras medidos. Dois meses após a lipoaspiração, elas tinham perdido 2% de gordura e quase o mesmo em circunferência. Um ano depois, as medidas foram reavaliadas. A gordura total voltou aos índices
originais, mas concentrada na parte superior do corpo.
Segundo os pesquisadores, isso acontece porque o corpo "defende" suas reservas de gordura. Se as células adiposas são eliminadas de uma área, a gordura vai "inchar" células em outro lugar. "Observamos isso na prática", diz Carlos Alberto Komatsu, presidente da SBCP SP (regional paulista da Sociedade Brasileira de Cirurgia
Plástica). Mas, para ele, os pesquisadores deveriam ter orientado as mulheres a mudar a alimentação. "Se você come mais do que gasta, a gordura volta mesmo", afirma Komatsu.
• Inflamação
Além do acúmulo de gordura em outros lugares, a lipoaspiração pode ter outras consequências. Um estudo da SBCP-SP, ainda em andamento, mostra que, quando a retirada de gordura passa de três litros, os níveis de substâncias do corpo que sinalizam inflamação sobem bastante. "Uma hora, a coisa desanda. Você mexe de um lado, sobe de outro", diz Komatsu.
• Região aspirada pode ficar assimétrica
Além do risco de a gordura voltar em outro lugar, a lipoaspiração pode trazer outros problemas estéticos. Segundo o cirurgião plástico Alan Landecker, os mais comuns são assimetrias, quando é retirada mais gordura de um lado que do outro do corpo. Ondulações e depressões na pele também podem surgir, muitas vezes por falhas técnicas, segundo Landecker. "Isso acontece se a introdução da cânula for muito superficial." Algumas pessoas também podem criar fibroses mais volumosas durante o processo de cicatrização, outra causa possível das ondulações.
No procedimento, o corpo acumula mais líquidos. O inchaço costuma desaparecer após algumas semanas, mas há risco de que o acúmulo de líquido permaneça sob a pele e gere infecções. Se for retirada gordura demais, há aderência da pele, o que também cria depressões. Um risco mais raro é a operação afetar a vascularização da pele, que acaba ficando com uma ferida aberta. Problemas mais graves incluem perfurações de vísceras e vasos e embolia causada por partículas de gordura que se soltam.
Segundo o cirurgião plástico Vitório Maddarena, do Hospital São Luiz, de São Paulo, esses riscos são minimizados se a lipoaspiração for feita em local adequado, com UTI, e com bom acompanhamento pós-operatório.
• Nova técnica usa laser para extrair gordura
Uma nova técnica de lipopiração começa a ser usada nos consultórios. A chamaada laserlipólise conta com energia do laser para elíminar a gordura localizada. "Nessa técnica, antes de fazer a aspiração com a cânula, usamos o calor do laser para derreter a gordura. Assim, retirada é mais suave e há menos sangramento. Depois a aspiração, aplicamos de novo o laser, para fazer a pele se retrair mais rápido", diz o cirurgião plástico Cláudio Roncati, diretor da Sociedade Brasileira de Laser.
O procedimento é um pouco mais demorado e cerca de 50% mais caro do que a lipoaspiração convencional, segundo Roncati, que recomenda o laser especialmente para pessoas com tendência a fibrose ou que já fizeram cirurgias abdominais.
Para o cirurgião plástico Alan Landecker, das sociedade brasileira e internacional de cirurgia plástica, a laserlipólise pode diminuir o sangramento e o tempo de recuperação. "Uma das desvantagens é que o laser pode aumentar a tendência ao acúmulo de líquidos" , diz o cirurgião.
Para Landecker, a técnica ainda é nova e não há estudos suficientes para saber se é melhor ou pior do que a convencional. Ele lembra que o laser, embora não invasivo,
pode queimar tecidos. "É fundamental que a técnica seja aplicada por um profissional bem treinado no uso do laser", diz Roncati.