A recente descoberta de que os suplementos de vitamina D são desnecessários expõe uma divergência entre pesquisadores de nutrição.
Revista Scientific American - por Melinda Wenner Moyer
Nas últimas décadas, os médicos prescreveram suplementos de vitamina D a seus pacientes por uma boa razão: a confirmação de uma correlação entre elevada ingestão de vitamina D - superior à que a maioria das pessoas retira de uma dieta típica, combinada com exposição ao sol - e menores taxas de doenças crônicas, como câncer e diabetes do tipo 1. Por isso, quando o Instituto de Medicina - responsável por aconselhar o governo americano nas políticas de saúde - concluiu que os suplementos de vitamina D são desnecessários para a maioria das pessoas, além de potencialmente prejudiciais, a confusão foi gerada.
A questão expõe uma divergência entre especialistas sobre o que representa uma prova quando se trata de nutrição, fato capaz de afetar a recomendação em relação a muitos outros suplementos. De um lado estão os cientistas que insistem em afirmar que o único padrão aceitável é o ensaio clínico randômico, que compara os efeitos de uma intervenção médica, a exemplo da elevada ingestão de vitamina D, com resultados de placebo. Os cientistas que revisaram as descobertas sobre a vitamina D defendem com ênfase essa posição: os ensaios "tipicamente fornecem o nível mais alto de evidência científica para o desenvolvimento da ingestão dietética de referência", argumentam. O relatório desses cientistas fixa os níveis de ingestão baseados apenas nos dados extraídos do ensaio clínico.
O painel do Instituto, no entanto, descartou uma enorme quantidade de estudos observacionais, em que os pesquisadores comparam a saúde das populações que ingerem suplementos de vitamina D com aquelas que não têm esse comportamento. Em teoria, esses estudos epidemiológicos são inferiores às abordagens clínicas porque confiam em observações externas do mundo real, onde é impossível controlar as variáveis. Os pesquisadores compensam essa falta de controle usando amostras de tamanhos maiores - alguns estudos sobre vitamina D fazem o acompanhamento de 50 mil pessoas - e aplicando técnicas estatísticas. De acordo com esses estudos, níveis elevados de vitamina D são geralme.nte benéficos.
Após o impacto do relatório feito pelo instituto, médicos estão criticando os estudos clínicos. Em nutrição, argumentam, os verdadeiros grupos de placebo são muito difíceis de manter - como evitar que as pessoas de um grupo de controle tomem doses extras de vitamina D, se exponham ao sol ou ingiram alimentos, mascarando os benefícios da vitamina? Também é difícil destacar o efeito de uma única vitamina ou mineral dos demais, porque "muitos funcionam em conjunto.