Há mais dúvidas do que certezas sobre a importância do nutriente.
Revista Época - por Francine Lima
O consumo de cápsulas de vitamina D quase dobrou nos últimos dois anos. De acordo com o Nutrition Business Journal, as vendas de pílulas de vitamina D, que já é chamada de "o nutriente do ano", cresceram 82% entre 2008 e 2009 nas farmácias americanas. Mas há indícios de que a corrida pela vitamina se deva a uma fé precipitada em estudos iniciais sobre o nutriente. Há mais dúvidas do que certezas sobre a importância do nutriente.
O que está comprovado sobre a vitamina D é sua importância na saúde dos ossos. Ela controla a absorção de cálcio. Quando está abundante no sangue, participa da fixação de cálcio no esqueleto. Quando falta, faz o contrário: retira cálcio dos ossos e os enfraquece. Se essa deficiência perdura, o futuro pode trazer a osteoporose.
A maior parte da vitamina D usada pelo corpo humano é sintetizada na pele, pelo contato com a luz do sol. Em tese, ninguém precisaria se preocupar em ingerir nada. O problema existiria para os idosos, porque eles perdem gradualmente a capacidade de produzir vitamina D. Nos países com baixos índices de insolação, há carência da vitamina nos mais jovens.
Pesquisas feitas nos últimos dez anos fizeram crer que parte crescente da população mundial é deficiente em vitamina D e que ela, adicionalmente, teria propriedades protetoras contra cânceres de mama, próstata e intestino, além de esclerose múltipla e diabetes.
Mas isso tudo pode ser exagero. O Instituto de Medicina, um órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, revisou mais de 1.000 estudos e publicou um relatório avisando os médicos de duas coisas importantes. Que não há provas de que a vitamina D faça tanta diferença, exceto nas doenças ósseas. E que os cidadãos americanos precisam de menos vitamina do que se andou dizendo.
Na parte do benefício curativo, alguns trabalhos mostraram que a vitamina D tem efeitos benéficos contra o câncer, mas outros sugeriram o contrário. Foram observados inclusive efeitos colaterais da ingestão da vitamina, como alteração renal. O oncologista Carlos Gil Ferreira, do Instituto Nacional do Câncer, do Rio de Janeiro, diz que nenhum clínico prescreve vitamina D achando que vai resolver o câncer: "Qualquer uso da vitamina D nesse sentido hoje seria empírico" .
A necessidade de ingerir vitamina D provoca: uma discussão mais complicada. Será que todo mundo precisa das pílulas? Em tese, bastaria meia hora ao ar livre no começo da manhã ou no fim da tarde, três vezes por semana, para produzir o suficiente. Mas o uso de protetor solar e o estilo de vida confinado a quatro paredes podem estar reduzindo essa produção. Acredita-se que um protetor com fator de proteção 15 diminua a disponibilidade da vitamina em 98%. Num estudo feito em São Paulo com 603 pessoas entre 18 e 90 anos de idade, 77,4% dos indivíduos apresentaram falta de vitamina D após o inverno e 39,6% após o verão.
Para conseguir mais vitamina D sem ganhar um câncer de pele, a dica dos médicos é escapar para um passeio, sem filtro solar, nos horários de sol ameno. Se você tiver dúvidas sobre sua capacidade de sintetizar a vitamina, fale com o médico. Ele pode resolver o dilema com um exame.
• A falta que ela faz
A saúde dos ossos justifica a a preocupação com os níveis de vitamina D
1) Saúde dos ossos
A vitamina D mantém os níveis de cálcio e fósforo no sangue normais. Na falta dela, o cálcio é retirado do osso. Por isso está associada à osteoporose nos idosos.
A deficiência grave em adultos causa fraqueza nos ossos e músculos próximos e fraturas frequentes. Em crianças, a deficiência de vitamina D pode resultar em raquitismo, que provoca deformidades ósseas.
2) Outras doenças
Suspeita-se que a vitamina D possa ser coadjuvante no tratamento do diabetes, pois estudos mostraram que ela aumenta a sensibilidade à insulina sem aumentar sua secreção.
Outros estudos inconclusivos associaram a deficiência de vitamina D à incidência de certos tipos de câncer, doenças cardiovasculares e diabetes. Ainda não se demonstrou que ingerir mais vitamina é uma medida preventiva.
• Como obter mais
A melhor fonte do nutriente na juventude é a pele. Os idosos produzem menos.
- Do sol
Quando os raios ultravioleta do sol atingem a pele, eles ativam os precursores de vitamina D existentes nas células, Eles produzem a vitamina.
A exposição à luz solar por até 30 minutos, três vezes por semana, fornece para a maioria das pessoas a quantidade necessária de vitamina D.
Depois de passar pelo, fígado e pelos rins, a forma inativa da vitamina é finalmente transformada na forma ativa, que está pronta para ser usada pelo organismo.
- Dos alimentos
A vitamina D está presente em alimentos como óleos de salmão, atum e sardinha, gema de ovo e fígado, mas é improvável suprir nossas necessidades só com esses alimentos. Alimentos processados e fortificados com o nutriente ajudam, mas não resolvem.
- Em c&a aacute;psulas
Está comprovado que as cápsulas em doses baixas (200 a 600Ul) aumentam a vitamina D circulante no sangue e a tornam mais disponível para as células do corpo. Mas há dúvidas sobre as vantagens das doses acima de 1.000 UI. A ingestão diária máxima recomendada é de 4.000 UI.