Peixes transparentes ajudam neurocientistas a encerrar debate científico sobre se a sesta melhora o desempenho cerebral.
Revista Scienteific American - por Carrie Arnold
Parecem óbvios os benefícios do sono. E, ainda assim, os cientistas há muito travam um debate sobre como precisamente o sono melhora o desempenho cerebral no nível celular. Um grupo argumenta que o sono reduz as conexões insignificantes entre os neurônios, evitando uma sobrecarga do cérebro. Outro alega que o sono consolida a memória do dia anterior.
Recentemente, uma equipe de cientistas tentou acabar com essa discussão ao estudar a forma larval de um recorrente peixe de estimação transparente, conhecido no Brasil como paulistinha. Como os humanos, esses peixes são ativos durante o dia e dormem à noite. Ao contrário dos humanos, a forma larval é transparente, o que permitiu aos pesquisadores observar o cérebro desses animais enquanto dormiam. Os pesquisadores, liderados por Lior Appelbaum e Philippe Mourrain, da Stanford University, marcaram os neurônios das larvas com um corante, de forma que as conexões neuronais ativas, ou sinapses, ficassem verdes, e as inativas, pretas. A diminuição da atividade sináptica demonstra ria que o sono suprime as conexões de memória desnecessárias, ao passo que a consolidação da memória manifestaria um padrão diferente. Após acompanhar a flutuação dessas sinapses ao longo do dia, a equipe descobriu que o paulistinha de fao apresenta uma diminuição da atividade sináptica geral durante o sono. Os pesquisadores publicaram seus resultados no periódico Neuron, tomando-se os primeiros a demonstrar os efeitos do ciclo sono-vigília e do dia sobre as sinapses de um vertebrado vivo. "O sono é um processo ativo que reduz a atividade no cérebro;" elucida Mourrain. "E permite ao cérebro se recuperar das experiências anteriores:" Sem a redução sináptica ocorrida durante o sono, ele observa, o cérebro não teria a habilidade de absorver e armazenar novas informações de forma contínua.