Descobertas novas substâncias que retardam o envelhecimento de células. Estamos à beira de uma revolução antivelhice? É o que afirma um jornalista britânico.
Revista Época negócios - por Àlvaro Oppermann
Em 2008, três equipes de pesquisadores americanos descobriram uma propriedade insólita de uma droga chamada rapamicina, até então usada na prevenção da rejeição de órgãos em transplantes. Em testes de laboratório, os cientistas notaram que ela retardava o envelhecimento de moscas e vermes. Repetindo a experiência com ratos, o resultado foi impressionante: a expectativa de vida dos roedores testados com a rapamicina aumentou 28% entre os machos e 38% entre as fêmeas. Foi a primeira vez que pesquisas mostraram resultados convincentes de que uma droga pode prolongar a vida de mamíferos. Ainda é cedo para falar sobre seres humanos. Porém, a descoberta do potencial da droga - aliada aos avanços no sequenciamento de DNA, realizados na última década - mostra como é cada vez mais real o que, 15 ou 20 anos atrás, ficaria restrito ao campo da ficção ou do charlatanismo: o retardamento da velhice. Robert Butler, fundador do National Institute on Aging, dos Estados Unidos, e recentemente falecido, afirmou que o desenvolvimento de drogas antienvelhecimento, com poder de retardar em até sete anos as doenças relacionadas à velhice, é nos dias de hoje algo realisticamente alcançável.
Que ninguém espere uma pílula da juventude para os próximos anos, bem entendido. Caso, porém, a esperança algum dia se confirme, a descoberta vai promover uma revolução na estrutura da sociedade moderna, da previdência social ao bem-estar e à saúde. É o que mostra o livro The Youth Pill ("A pílula da juventude"), de David Stipp, veterano jornalista de ciências do Wall Street Journal, Fortune e Salon. Stipp esmiuçou um tema explosivo. A obra, desde que foi lançada em fins de julho nos Estados Unidos, tem provocado ruído na imprensa. Mesmo a cautelosa The Economist re conhece o valor dessas descobertas.
Para David Stipp, é território familiar. Em 2006, foi dele a notícia sobre a descoberta dos efeitos antienvelhecimento do resveratrol - substância química com propriedades antioxidantes, presente no vinho tinto. Suplementos que contêm o resveratrol tornaram-se, nos últimos anos, uma indústria de US$ 3 bilhões. A Pfizer investiu pesado no estudo do resveratrol. As novidades antienvelhecimento não se limitam à rapamicina. Desde os anos 90, sabe-se que a mutação de genes é capaz de dobrar a duração da vida de mamíferos. A descoberta destes "genes gerontológicos" tem inspirado ambiciosos biólogos a tentar elucidar o enigma molecular do envelhecimento. "A gerontologia é uma das disciplinas mais "quentes" da atualidade", segundo Stipp. O retardamento do envelhecimento reduziria não só a disseminação de doenças, como
o mal de Alzheimer, a hipertensão e problemas cardíacos, mas também promoveria uma bem-vinda revolução no campo estético, do combate às rugas à flacidez. Em termos financeiros, o antienvelhecimento serviria de alento aos administradores hospitalares, cada vez mais pressionados diante dos custos crescentes da medicina geriátrica. "A única forma prática de aumentar a vida saudável é reduzir os riscos das doenças do envelhecimento", conclui Stipp.