Não existe um só líder da inovação. O que há são capacidades diferenciadas para cada tipo de desafio.
Revista Época Negócios - por Álvaro Oppermann
Imagine a cena. Na sala de reuniões, o CEO entrevista - um a um - executivos que se candidataram a uma cobiçada vaga num projeto estratégico. Os currículos são impecáveis. O histórico dos entrevistados é reluzente. Entre um café com adoçante e outro, o presidente ouve dos candidatos casos de sucesso que combinam criatividade e disciplina no lançamento de novos produtos, aceitação de riscos e expectativa de aprender com o fracasso, ótima condução de equipes, retenção de talentos e, por fim, paixão pela missão e pelo negócio. Todos os candidatos parecem perfeitos. Porém, o CEO ainda está desconfiado. Intuitivamente, sabe que o novo projeto - uma verdadeira jóia lucrativa para o grupo - pede características pessoais diferenciadas do futuro diretor ou diretora. As entrevistas seguem. E a incerteza também.
O hipotético CEO seria uma alma gêmea do professor Jean- Philippe Deschamps, da escola de negócios IMD, de Lausanne, Suíça. Deschamps, autor de diversos clássicos dos negócios, como Produtos lrresistíveis (1996), tem estudado no último decênio a liderança voltada para a inovação. Ê o tema de que vai tratar, neste mês de setembro, no seminário Driving Strategic Innovation, do MIT. Sua conclusão; não existe um perfil único de líder que se encaixe a todas as facetas da inovação - seja ela uma nova categoria de produto, modelo de negócios, soluções de serviços ou melhorias técnicas. Existem qualidades distintas e específicas do líder que se aplicam melhor a esta ou àquela disciplina do processo. É uma questão, enfim, de vocação. A chave para descobri-Ia é o processo em si. Exemplos ajudam a esclarecer a tese de Deschamps.
- Visionário
Também chamado pelo professor de "campeão da inovação", encaixa-se como uma luva para o desafio mercadológico do tipo mais raro; a criação de uma nova categoria de produto ou serviço. Exemplo de líder visionário, segundo Deschamps, é Lewis Lehr , ex-presidente da 3M, que costumava dizer "eu sigo aqueles que, na empresa, perseguem os sonhos". Sem esta liderança, inovações radicais, como a criação do post-it na 3M, ou das embalagens de celulose para enlatados da Tetra Pak, correriam sério risco de ernperrar.
- Arquiteto
Um tipo analítico e pragmático. É o ideal para a implementação de novos modelos de negócio ou novos sistemas que alteram o modelo antigo. Assim como o visionário, uma de suas características é possuir a concepção global do objetivo a ser alcançado, porém com atenção às minúcias da execução. Um exemplo é Ray Webster, o CEO da EasyJet entre 1995 e 2005, um dos arquitetos do modelo de sucesso de companhia aérea de baixo custo.
- Conector
É a personalidade ideal para liderar projetos de soluções ao cliente, que normalmente envolvem diferentes departamentos da empresa, fornecedores e usuários. Este tipo combina maleabilidade na negociação com rigor de execução. "Conectores" estavam por trás da bem sucedida reestruturação da IBM, convertida em provedora com soluções customizadas de serviços. "Devem combinar carisma com capacidade de orquestração", diz Deschamps.
- Treinador
O treinador "raçudo", como Felipão, é perfeito para o tipo mais comum de inovação, a incremental, que visa aperfeiçoamentos em produtos e serviços. É um mestre de execução sincronizada e veloz, pois a rapidez para aterrissar nas prateleiras é vital, nesse caso. "É um líder que deve combinar as qualidades dos treinadores do esporte. É durão e exigente, mas também uma mãe na hora certa, dando todo o apoio à equipe", conclui Deschamps.