Folha obteve a lista dos 48 alunos mais bem colocados em cada um dos cursos avaliados pelo Enade em 2007 e 2008; a maioria não estuda apenas nas vésperas das provas e é apaixonada por seus cursos.
Folha de São Paulo - por Angela Pinho
André, 26, é frei franciscano em Petrópolis (RJ). Pedro, 30, vive em uma chácara nos arredores de Brasília, onde sua família cultiva maracujá. Vivian, 27, morava em uma favela no Rio, de onde saiu graças a bolsas que ganhou durante a faculdade.
Com perfis bem distintos do típico aluno aplicado de classe média, os três ficaram em primeiro lugar nos seus respectivos cursos no Enade, o exame do Ministério da Educação que é dirigido aos universitários.
A Folha obteve a lista dos 48 estudantes mais bem colocados em cada um dos cursos avaliados em 2007 e 2008 - os resultados de 2009 ainda não saíram. Eles serão contemplados com bolsas do governo caso queiram fazer pós-graduação.
Apesar das características diferentes, seguem uma cartilha de condutas em comum que os levou ao topo do ranking do Enade: não estudam somente nas vésperas das
provas, tiram as dúvidas durante as próprias aulas e, principalmente, são apaixonados por seus cursos.
O sucesso na universidade, no entanto, nem sempre se repetiu durante a escola.
Frei André teve que deixar o jardim de infância porque a professora dizia que ele era tímido demais para conviver com os colegas. Quando voltou à escola, quase repetiu a primeira série. Mudou de cidade cinco vezes durante a infância e a adolescência. A cada colégio, conteúdos nunca vistos anteriormente.
Para André, a timidez o ajudou a obter o primeiro lugar entre os estudantes de filosofia em 2008. "Quem não se dá bem em algumas dimensões da vida social acaba se aplicando mais a outras, e eu me apliquei mais aos estudos", diz ele, que estudou no Centro Universitário Francíscano do Paraná.
• Qualidade
Dois terços dos primeiros colocados no exame estudaram em universidades públicas. Entre os demais, a lista traz egressos de instituições particulares tradicionais, como a PUC do RJ e de SP.
Há, no entanto, exceções. Melhor aluna de Letras do país, Paula Carnasciali, 35, estudou na Faculdade Anhanguera de Osasco, instituição que tem nota 2 no IGC (Índice Geral de Cursos) do Ministério da Educação.
Seu método de estudos era a dedicação total. Ia a todos os cursos extras e atividades extracurriculares oferecidas pela faculdade e conversava muito com os professores, que ela achou muito bons.
Luana Guedes, 25, também acredita que sua participação em atividades voluntárias, para atender pacientes, a ajudou a obter o primeiro lugar em fisioterapia. Mas isso não se refletiu num bom emprego na área.
Após se formar, ficou um ano desempregada. Prestou concurso público e hoje ocupa um cargo administrativo no Ministério da Saúde cuja exigência é ensino médio completo. ""A não ser que consiga um emprego público na área, não pretendo trabalhar com fisioterapia."
Já para Vivian dos Santos Teixeira, 27, a universidade foi fundamental para melhorar de vida. Ao cursar enfermagem na UFRJ e ter acesso a bolsas de pesquisa, passou a ajudar a família, o que permitiu que ela e mãe saíssem da favela Nossa Senhora das Graças, na Ilha do Governador, zona norte do Rio.
• PEDRO NAVES, BIOLOGIA
Na UnB (Universidade de Brasília), Pedro Henrique Coelho Naves, 25, nunca deixava para estudar só na véspera das provas. Mas, para ele, isso não era nenhum sacrifício. "Estudava porque eu gostava, para entender, não para passar", diz ele, primeiro colocado em biologia.
Ex-aluno de um dos melhores colégios de Brasília, vai disputar o concurso de perito da Polícia Federal.
• EDILMA MENDES, ALIMENTOS
Edilma Mendes Venancio veio da Paraíba para Mauá (ABC) aos nove meses de idade. Sempre estudou em escola pública e, após o ensino médio, foi trabalhar como operadora de caixa.
Juntou dinheiro por dois anos e meio, estudou por conta própria e passou no curso de Tecnologia em Alimentos na Faculdade de Tecnologia Termomecânica, em São Bernardo.
• TIAGO ÁVILA, HISTÓRIA
Melhor colocado no Enade do curso de história, Tiago Bacellar Ávila, 25, formou-se pela UFMG e agora voltou ao colégio Magnum Agostiniano, em Belo Horizonte -dessa vez como professor. Foi lá que estudou por 13 anos.
Até concluir a licenciatura, nunca tinha trabalhado. Sua meta agora é o mestrado.
"Estou muito feliz, apesar da falta de reconhecimento social do professor."
• VIVIAN TEIXElRA, ENFERMAGEM
Ao cursar enfermagem na UFRJ, Vivian dos Santos Teixeira, 27, e ter acesso a bolsas de pesquisa, ela e a mãe conseguiram sair da favela Nossa Senhora das Graças, na Ilha do Governador, no Rio.
O curso de enfermagem, que só entrou após pagar um curso de pré-vestíbular, foi só o começo. Já concluiu especialização em saúde mental e agora trabalha num Centro de Atenção Psicossocial.